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Temos o direito de criticar?

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É natural que ninguém goste de ser criticado. Políticos, professores, e figuras públicas são diariamente criticados. Em alguns países, é proibido criticar o governo, e o descumprimento dessa lei pode resultar em prisão e, em alguns casos extremos, até em execução.

O Corpo Governante (CG) das Testemunhas de Jeová em conexão com a Torre de Vigia (TJs) não aceita ser criticado por uma TJ. Se um membro de uma congregação lançar críticas, sejam elas corretas ou não, ele será desassociado da congregação. Isso significa que, se o CG estiver cometendo um erro grave, como de fato já cometeu e comete, ninguém tem o direito de apontar isso na congregação. O livro Pastoreiem o Rebanho de Deus (2020), que é o livro para anciãos, aponta o seguinte pecado de desassociação:

Causar divisões, promover seitas: (Rom. 16: 17. 18; Tito 3:10, 11) Envolve agir deliberadamente para acabar com a união na congregação ou enfraquecer a confiança dos irmãos na organização de Jeová. Isso poderá envolver ou levar à apostasia. – it-3 pp. 556-557.

   O que significa na prática “enfraquecer a confiança dos irmãos na organização de Jeová”? A frase em destaque na citação do livro Pastoreiem o Rebanho de Deus não abrange apenas exemplos extremos. Antes, ela é uma lei totalitária que proíbe qualquer membro de criticar o CG perante a congregação ou mesmo em uma conversa privada. Assim como certos governos totalitários proíbem seus cidadãos de lançar críticas ao estado, o corpo governante das TJs desassociará a todos que o criticarem. Isso, porém, não tem base bíblica alguma. O Novo Testamento (NT) nos ensina que 1) criticar o que está errado é um direito; 2) criticar erroneamente alguém não justifica desassociação; 3) causar divisões, a menos que seja em conexão com formar uma seita, não justifica excomunhão.

   Para o CG, não mais importa quem está certo e quem está errado, a verdade e a mentira, o bíblico e o não-bíblico, mas importa apenas que haja uniformidade na congregação. Contudo, isso está muito errado, pois qualquer igreja com qualquer doutrina falsa pode estar uniforme ou mesmo “unida”, e isso não salvará as pessoas. A união não salva ninguém, a verdade sim; a união não liberta a ninguém, a verdade sim.

“A união não liberta a ninguém, a verdade sim.”

   O CG tem adoração por união e aversão a críticas, e os membros das TJs foram doutrinados a conceber qualquer crítica ao CG como blasfêmia, como um sacrilégio, como se fosse uma crítica ao próprio Jeová Deus. Se um membro fez uma crítica ao CG, tocou “nos santos ungidos de Jeová” e merece ser desassociado, mesmo que a crítica esteja correta. Contudo, essa postura não possui base bíblica e é, em essência, uma extrapolação das leis bíblicas.

 

Criticar é correto

   A Bíblia nos relata que há críticas sinceras que merecem ser feitas, e que ninguém na congregação cristã, nem mesmo os apóstolos, estão acima de crítica. Na igreja primitiva, os 12 apóstolos eram a autoridade máxima. Os 12 eram um grupo distinto composto por:

1.   Simão Pedro (Cefas);

2.   Simão Cananita;

3.   André;

4.   Tiago de Zebedeu;

5.   Tiago de Alfeu;

6.   João;

7.   Filipe;

8.   Bartolomeu;

9.   Tomé;

10.                  Mateus;

11.                  Judas Tadeu;

12.                  Matias (substituto de Judas Iscariotes);

Paulo também era chamado de “apóstolo”, que significa “enviado”. Mas ele não era parte do grupo dos 12. Portanto, se olhássemos para esses personagens de uma perspectiva hierárquica, Paulo estaria abaixo dos 12 apóstolos. A Bíblia em parte alguma aponta Pedro como uma espécie de “Papa”, mas Pedro certamente recebe destaque. (Atos 2:37; 5:29) Será que Pedro poderia ser criticado por alguém em uma “posição inferior”?

(Gálatas 2:11-14) 11 No entanto, quando Cefas [Simão Pedro] chegou a Antioquia, eu me opus a ele face a face, porque ele estava claramente errado. 12 Pois, antes da chegada de certos homens da parte de Tiago, ele comia com pessoas das nações; mas, quando eles chegaram, parou de fazer isso e se separou dessas pessoas. . . Os outros judeus também se juntaram a ele nesse fingimento, de modo que até mesmo Barnabé se deixou levar pelo fingimento [hipocrisia] deles. 14 Mas, quando vi que eles não estavam andando de acordo com a verdade das boas novas, eu disse a Cefas na frente de todos eles: “Se você, embora seja judeu, vive como as nações, e não como os judeus, como pode obrigar as pessoas das nações a viver segundo as práticas judaicas?”

Será que Paulo, que não era um dos 12, se refreou de criticar Simão Pedro? Ou talvez Simão Pedro tenha pedido para que uma “comissão judicativa” fosse formada a fim de que Paulo fosse admoestado a não “enfraquecer a confiança dos irmãos na organização de Jeová? Será que Pedro corrigiu Paulo, acusando-o de “causar divisões”? Tenho certeza de que, caso o apóstolo Paulo lançasse tal crítica a algum membro do atual CG, ele seria desassociado eventualmente.

Uma resposta que já recebi a este argumento foi a seguinte: “Paulo não criticou o ensino de Pedro, mas a ação dele. Portanto, seu raciocínio não se aplica.” Em resumo, tal resposta defende a ideia de que ‘é permissível criticar ações, não ensinos da liderança’. Porém, esta é uma resposta muito fraca. Por que afirmo isso? Primeiro, porque evidentemente ela é forçada e tendenciosa, e segundo porque não há na Bíblia nenhum relato de um ensino de Pedro que tenha sido digno de crítica para que somente então pudéssemos afirmar que “é correto criticar ações da liderança, mas não ensinos.” O ponto é: este relato prova que não é errado fazer críticas, e não importa se é contra ações ou ensinos.

Paulo também critica alguns anciãos na congregação.

(2 Coríntios 11:5) 5 Porque eu considero que em nem uma única coisa me mostrei inferior aos vossos superfinos apóstolos.

O modo como Paulo chama os instrutores da congregação é pejorativo. Se criticar fosse pecado, seria pecado para todos, até mesmo para Paulo. A Bíblia ensina que apontar alguns erros não é apenas um direito, mas também um dever dos anciãos.

(Gálatas 6:1) Irmãos, mesmo que um homem, sem perceber, dê um passo em falso, vocês que têm qualificações espirituais tentem reajustar esse homem num espírito de brandura.

Paulo mostra que é dever dos anciãos reajustar outro(s) irmão(s), e isso se aplica a todos os irmãos, inclusive aos membros do CG. Infelizmente, porém, o CG não aceita críticas nem ajustes de ninguém. Faça isso e você será desassociado. Contrário a tal postura, o próprio Senhor ensinou que cada cristão tem o direito de apontar o erro de outro cristão.

(Mateus 18:15-17) 15 “Outrossim, se o teu irmão cometer um pecado, vai expor a falta dele entre ti e ele só. Se te escutar, ganhaste o teu irmão. 16 Mas, se não te escutar, toma contigo mais um ou dois, para que, pela boca de duas ou três testemunhas, todo assunto seja estabelecido. 17 Se não os escutar, fala à congregação.

Ninguém está acima desse princípio, e a mera ideia de que isso talvez não se aplique ao CG é veneração a homens e deve ser repudiada. O CG foi informado dos erros que eu tenho apontado nesta página e no canal no YouTube, mas não demonstrou humildade. Portanto, o padrão apresentado na Bíblia foi aplicado, e estamos trazendo isso à congregação, conforme o Senhor ensinou que deve ser feito.

 

O Corpo Governante não pode desassociar todo mundo

    A Bíblia ensina que “um governante sem súditos está arruinado.” (Provérbios 14:28) Qual ensino está presente nestas palavras e como isso pode se aplicar ao CG? De forma direta, podemos afirmar que o CG não possui nenhum poder, apenas autoridade. Qual a diferença entre poder e autoridade? O poder pode ser entendido como aquilo que é parte da essência da pessoa. Por exemplo, um brutamonte pode ter poder sobre uma pessoa frágil; uma pessoa armada pode ter poder sobre alguém desarmado e assim coagir outros a lhe obedecerem – isto é poder. A autoridade, por outro lado, é concedida por outros, em muitos casos de forma voluntária. A diferença mais fundamental entre poder e autoridade é que a autoridade depende de que outros estejam dispostos a obedecer ao líder; se ninguém mais desejar obedecer ao líder, este perde toda a sua autoridade e passa a ser apenas alguém que acha que manda.

O Corpo Governante possui apenas autoridade e nenhum poder. No momento em que 4 ou 5 anciãos em uma congregação desassociarem o Corpo Governante e informarem os irmãos do motivo disso (sectarismo), tudo que se faz necessário é que os irmãos acreditem que o CG está desassociado, isto é, aceitem isso e os tratem como hereges. Se 10 congregações fizerem isso, que poder o CG poderá ter sobre tais irmãos? Nenhum. Afinal, o CG não pode entrar armado ou com chicotes nos salões do reino e espancar literalmente os irmãos, obrigando-os a serem obedientes. Assim, toda a autoridade do CG existe apenas em razão de uma crença em comum – a crença de que eles devem ser obedecidos. Isso é semelhante ao valor do dinheiro – só vale o que as pessoas acreditam que vale, não importa quanto o governo do país diga que vale. O Bitcoin só vale o que as pessoas acreditam que vale; no momento que ninguém mais acreditar no valor do Bitcoin, a criptomoeda não valerá mais nada. É a mesma coisa com o CG.

Em vista disso tudo, é muito fácil desassociar o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová. Só o que precisa ser feito é: o corpo de anciãos de uma congregação deve desejar fazer isso e os irmãos da congregação devem decidir acreditar na legitimidade desta ação. No momento que isso ocorrer, o CG estará desassociado para aquela congregação. O Corpo Governante não pode simplesmente desassociar a todos, pois eles dependem de todos para ter toda a autoridade que têm. Portanto, cada congregação no Brasil pode decidir desassociar o Corpo Governante, desde que o protocolo seja seguido e a congregação seja informada dos reais motivos.

 

 

Comentários

Anônimo disse…
Concordo com seu pensamento porém isso não irá acontecer isso faz parte das profecias dita por Jesus! Mas o seu trabalho de alerta alguns é muito importante!

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