Contribuído por Cristão Antitípico.
Você acredita que a Bíblia é inteiramente inspirada por Deus? Durante meu ministério de casa em casa e nas ruas já encontrei várias vezes pessoas que disseram: “Eu acredito na Bíblia, acredito que seja inspirada por Deus, a palavra de Deus”. Então eu por vezes perguntava:
·
“Você
acredita que Adão e Eva foram personagens históricos que existiram há uns 6 mil
anos?”;
· “Você
acredita no relato bíblico do Dilúvio e da arca de Noé?”;
· “Você acredita que as profecias da Bíblia estão se cumprindo atualmente?”
Em geral, as pessoas dizem acreditar
que as profecias da Bíblia se cumprem atualmente, pelo menos algumas. Mas dizem
não acreditar no relato do Dilúvio nem no relato de Adão e Eva e da criação; defendem que a arca de Noé, Adão e Eva são lendas.
Vemos um exemplo disso no instituto BioLogos.
Esse instituto foi fundado
por um dos principais biólogos do mundo, Francis Collins, um evolucionista que
se autointitula cristão. No que se refere ao Dilúvio e à arca de Noé, o
instituto declara oficialmente:
A
evidência científica e histórica é agora clara: nunca houve uma inundação
global que cobria toda a terra, nem todos os animais modernos e os humanos
descendem dos passageiros de uma única embarcação.[1]
O instituto não acredita na
historicidade do Dilúvio, de Noé, nem de Adão e Eva, nem no relato da criação.
Segundo BioLogos, o Dilúvio é apenas uma história fictícia para ensinar lições
morais: alguma coisa aconteceu, mas não um Dilúvio global. O curioso
nisto é que, se qualquer membro do instituto for questionado: “Você acredita
na Bíblia como palavra de Deus?”, jurará de pés juntos que sim, e ficará
furioso se alguém o acusar de não crer na Bíblia. A verdade nua e crua,
contudo, é esta: se você não acredita na historicidade do Dilúvio e de Adão e
Eva, você não acredita em Jesus Cristo e nem na Bíblia. Esta é uma das
implicações de “defender lealmente a Bíblia como palavra de Deus” – um dos
pilares do verdadeiro cristianismo.
Outra implicação de “defender lealmente
a Bíblia como palavra de Deus” é crer que cada relato nas Escrituras
Hebraicas é inspirado e que cada relato especial aponta para o Cristo, além de
crer que cada nuance e sutileza no texto original seja relevante. Isto
significa que os relatos veterotestamentários não foram incluídos no cânon
apenas para nos dar um quadro geral dos atributos de Deus, mas que são ricos em
detalhes e possuem caráter profético tipificado. Um exemplo disso são as cidades
de refúgio.
O que eram
as cidades de refúgio?
Na
lei de Deus a Israel, se alguém acidentalmente matasse outra pessoa, não
receberia pena de morte. Havia o arranjo das 6 cidades de refúgio. (Leia
Números 35:14-28.)
Moisés
designou 3 dessas cidades:
1.
Bezer
(primariamente para a tribo de Rubem);
2.
Ramote (ou Ramote-Gileade, no território de
Gade);
3.
Golã (território de Manassés);[2]
Depois
de entrar na terra da promessa, Josué designou mais 3 cidades:
1.
Hebrom
(território de Judá);
2.
Siquém (região de Efraim);
3. Quedes (território de Naftali, mais tarde
conhecido como “Galileia”.);[3]
O
homicida acidental teria de ir até uma dessas cidades buscar refúgio. Para impedir que
assassinos se aproveitassem dessa provisão, o fugitivo tinha de ser julgado na
cidade onde ocorreu o homicídio culposo a fim de provar a ausência de dolo ou
mesmo dolo eventual. Se o homicídio fosse culposo, o réu retornava à cidade de
refúgio, onde tinha de permanecer pelo resto da vida, ou até a morte do sumo
sacerdote. — Números 35:6, 11-15, 22-29; Josué 20:2-8.
Ir para uma cidade de refúgio envolvia alguns
sacrifícios. A pessoa tinha que deixar para trás seu emprego e os confortos da
sua casa. Ela não podia sair da cidade de refúgio até a morte do sumo
sacerdote. Enquanto estivesse na
cidade, o fugitivo tinha a proteção de Jeová. A cidade de refúgio, entretanto, não
era uma prisão, pois a vida era significativa para as pessoas lá vivendo. O
cidadão podia trabalhar e levar uma vida praticamente normal, apenas não
poderia sair da cidade.
Nesse
ínterim, havia o arranjo do vingador de sangue, o qual podia executar o
homicida acidental que fosse achado fora dos limites da cidade. Este foi o arranjo
de Jeová.
Visto
que não há nenhuma relação lógica entre um homicídio culposo, a morte do sumo
sacerdote, um vingador de sangue e uma cidade de refúgio, muitos talvez se
questionem por que um arranjo tão arquitetado foi colocado nas Escrituras
Sagradas. Afinal, seria muito mais simples e prático se aquele que cometeu um
homicídio culposo fosse julgado pelos anciãos, libertado e talvez obrigado a
pagar uma indenização. O arranjo divino do vingador de sangue mostra que esse
relato nada nos ensina sobre a misericórdia de Jeová. Portanto, não é um relato
do qual possamos catar lições morais.
Realmente,
esse arranjo foi arquitetado demais para ser meramente legalista e para nos
ensinar apenas “lições morais” que “nos lembram” da misericórdia de Deus.
Portanto, ele deve ser um tipo profético da proteção que a antitípica
cidade de refúgio – o resgate de Cristo – proporciona ao pecador. Cristo é o
verdadeiro sumo sacerdote que, ao morrer, libertou o pecador da morte.
Alguns
falsos instrutores talvez ensinem que ‘a Bíblia não fala que as cidades de refúgio eram
tipos, ou símbolos, de alguma coisa’,
e que elas apenas nos ensinam que Deus é misericordioso e que a vida é valiosa,
e que podemos nos concentrar apenas em “lições” que aprendemos de tal arranjo.
No
entanto, isso é fundamentalmente falso; e olhar para as cidades de refúgio de
uma perspectiva puramente ética ou moralista é uma heresia, é uma rejeição da
inspiração da Bíblia tão grande quanto negar que Adão e Eva existiram. Os
instrutores que introduziram esta heresia devem ser removidos da congregação. (Tito
3:10) Provarei por quê.
O que representam?
Visivelmente
há elementos tipológicos na cidade de refúgio e há suficiente base bíblica para
concluirmos isso. Veremos 3 motivos disso:
1. As Escrituras ensinam que “. . . a Lei tem
uma sombra das boas coisas vindouras, mas não a própria substância das coisas.
. .” (Hebreus 10:1) A palavra “Lei” refere-se aos escritos de Moisés,
que incluem os 5 primeiros livros da Bíblia, que é onde Deus designou as
cidades de refúgio. Portanto, as cidades de refúgio possuem “uma sombra das
boas coisas vindouras” em Cristo porque estão incluídas “na Lei”.
2. O escritor de Hebreus fez uma referência
indireta às cidades de refúgio quando escreveu sobre o sacrifício de Jesus
Cristo: “. . . a fim de que, por meio dessas duas coisas
imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, nós,
que fugimos para o refúgio, recebamos forte encorajamento para nos
apegar firmemente à esperança que nos é apresentada.” (Hebreus 6:18) Portanto,
é falsa a alegação de que “a Bíblia não fala que elas eram tipos, ou símbolos,
de alguma coisa.”
3. O sumo sacerdote
era o personagem principal no arranjo das cidades de refúgio, pois sua morte
era a catarse do inteiro arranjo. A Bíblia diz que o sumo sacerdote é um tipo
de Jesus Cristo. (Hebreus 9:7-11) Portanto, é inconsistente dizer que o sumo
sacerdote da cidade representa o Cristo, mas que a cidade só nos ensina
“lições”;
Assim como as cidades de refúgio serviam de
proteção para o homicida não intencional, o resgate de Jesus Cristo nos protege
do pecado e da morte. Se nos afastarmos do resgate de Jesus, estaremos a mercê
da morte, conforme acontecia no caso do vingador de sangue. Do mesmo modo que a
morte do sumo sacerdote libertava o cidadão da cidade de refúgio, a morte do
antitípico sumo sacerdote, Jesus Cristo, nos liberta de nossos pecados. Todos
esses detalhes são tipológicos e é estarrecedor que um ensino tão claro nas
Escrituras Sagradas seja substituído por lições morais triviais.
O entendimento tipológico é muito relevante porque
nos dá confiança de que as Escrituras são realmente inspiradas por Jeová e nos
dá esperança para permanecermos no resgate de Jesus Cristo, pois significa vida
para nós assim como significava vida para aqueles que nas cidades residiam.
Notas:
[1] Disponível em: <https://biologos.org/common-questions/how-should-we-interpret-the-genesis-flood-account/>.
[2] Deuteronômio 4:43 e Josué 21:27, 36, 38.
[3] Josué 21:13, 21, 32.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o
site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
A Sentinela de novembro de 2017, p. 10
“Mas, em anos recentes, nossas publicações quase não têm falado de tipos e antítipos, ou seja, quase não falam do que certas coisas e pessoas mencionadas na Bíblia simbolizam. O motivo disso foi explicado em A Sentinela de 15 de março de 2015: ‘Quando as Escrituras dizem que uma pessoa, um acontecimento ou um objeto são tipos proféticos de outra coisa, nós aceitamos. Do contrário, devemos ter cautela ao dizer que certa pessoa ou relato são antítipos de algo, se não há base bíblica específica para isso.’ No caso das cidades de refúgio, a Bíblia não fala que elas eram tipos, ou símbolos, de alguma coisa. Por isso, neste estudo e no próximo, vamos nos concentrar nas lições que os cristãos aprendem com as cidades de refúgio.”
O artigo feito pelo “Cristão Antitípico” (gostei do nome) não deixa dúvidas de que algo de muito errado está acontecendo debaixo dos nossos narizes, dentro de nossos salões do reino, de nossas casas, em nossa adoração em família, nos congressos, e que, em silêncio, permitimos que tal ensino fosse introduzido em nossas vidas. Dissemos “amém” para o erro, pois achamos que estávamos agradando a Deus por tal submissão.
Deus e Pai de nosso senhor, perdoa-nos. Pecamos contra Ti, Pai.