Contribuído.
A resposta que
darei a seguir é a continuação de uma sequência de artigos, réplicas e
tréplicas em relação ao tema da excomunhão (desassociação) e por quais motivos um membro da
congregação deve ser excomungado. Por referência, você poderá acessar o artigo
principal: “Resposta a um leitor sobre os motivos bíblicos para a
excomunhão (desassociação)”:
Neste artigo, responderei mais uma vez
ao leitor. Visto que ele citou minhas palavras, vou destacar o discurso do
leitor em itálico, e as minhas palavras, quando citadas pelo leitor, ou como comentários dentro das afirmações do leitor, em azul escuro.
Foi dito:
“‘Tudo bem’ é uma expressão extrapolada. Eu não
disse que está ‘tudo bem’, e você sabe disso. Mas o ponto é que você vai ter
que provar biblicamente por que duas pessoas que fizeram isso são culpadas de
porneía, e você não vai conseguir. A Bíblia não diz que ‘tocar nas partes
íntimas’ é porneía”.
O leitor citou minhas palavras presentes
no artigo anterior. Para contextualizar, eu havia dito que a Bíblia não define
“tocar nas partes íntimas” como sendo porneía. Sobre tal conclusão, ele
argumentou:
Imagine
que duas pessoas que não são casadas entre si, mas casadas com outras pessoas,
fiquem nus, e comecem a se acariciar nas partes íntimas um do outro. Isso seria
porneía?
Prezado, você escolheu um exemplo capcioso,
ardiloso e atípico demais. Ainda assim, é bom refletirmos sobre estes casos
para testar nossa lógica. A reposta é: eles ainda não são culpados de porneía.
Entretanto, ninguém acreditará neles, e com razão.
Se duas
pessoas estão sem roupa, acariciando os órgãos uma da outra em um motel, a via
de exemplo, e duas pessoas testemunharem isso, será difícil
que os acusados consigam convencer os anciãos da congregação de que não
cometeram adultério, mesmo que porneía não tenha ainda sido consumada. (1
Timóteo 5:19, 20)
Nenhum corpo de anciãos acreditaria que as pessoas
envolvidas neste exemplo não tiveram relações sexuais, mesmo que de fato não
tenham tido relações sexuais. Ainda assim, se elas não fizeram sexo, elas não
cometeram porneía, pelo menos não ainda.
Vou ilustrar o que quero dizer. Imagine que você
chegue em casa e veja sua esposa ensanguentada no chão, quase perdendo a
consciência. Aí você olha para o vizinho e ele tem uma faca também
ensanguentada na mão. O vizinho esfaqueou sua esposa, mas ela ainda não morreu,
porém. Então você telefona para o hospital, eles enviam a ambulância para sua
casa, levam sua esposa para o hospital, ela recebe tratamento adequado e, pela
graça de Deus e contrariando todas as expectativas, sobrevive. Pergunto: o seu
vizinho é culpado de “homicídio”? A resposta é: não. Ele é
culpado de tentativa de homicídio, mas visto que sua esposa não morreu,
ele não a matou. Da mesma forma, se não houve uma relação sexual, não houve porneía,
ainda que a tentativa tenha sido esta. Certamente houve uma traição, mas
não porneía.
Você
diria que sim, [eu não] afinal, como 2 pessoas
não casadas poderiam se masturbar sem ser considerado adultério?
Eu diria que sim? Você afirma isso com que base?
Prezado, eu não vi você colocar nenhuma referência bíblica para definir isso
como porneía. Conforme entendi, você aparenta confundir “um ato obsceno”
com porneía. É como se, para você, porneía fosse uma cesta que
você leva para o “mercado de atos obscenos” e coloca todos os produtos que
desejar dentro dela. Prezado, eu acredito que para os cristãos porneía é
apenas aquilo que a Bíblia diz que é.
Agora na
mesma situação, eles se masturbam por debaixo da roupa. Isso não é porneía?
[Você tem o ônus da prova.] Ora, quer dizer
que ficar nu é o que define [eu não disse isso em
momento algum], na sua lógica, se algo é porneía ou não? Percebe
a infantilidade do seu argumento, irmão?
Você inventou uma opinião para mim e refutou a
opinião que você inventou. Eu não disse que “ficar nu” é o que define porneía.
O que define porneía é a relação sexual ilícita, que é como a
Bíblia define. Isso não significa, entretanto, que essas práticas que você
citou sejam nobres ou aceitáveis; apenas não são porneía porque a Bíblia
não diz que são. Se você acha que as ações descritas correspondem a porneía,
prove biblicamente – o ônus da prova é seu. Mas você não vai conseguir
provar porque a Bíblia não diz isso. Eu não vi você colocar nenhuma referência
bíblica que defina porneía para as ações que você apresentou.
Prezado irmão, imagine que eu diga que “dar um tapa na coxa do cavalo” é porneía. Qual é minha obrigação? Provar minha tese. Você tem uma tese – prove-a biblicamente. É simples. Eu não vi você se quer citar um texto bíblico para provar sua tese. O que vale não são nossas opiniões, mas o que a Bíblia diz.
Foi dito:
“Portanto, não há base bíblica para a sua tese de que os pecados que removem a
salvação do crente sejam base para desassociá-lo.”
(Números
19:20)
“‘Mas o homem que estiver impuro e que não se purificar, esse homem será
eliminado da congregação.”
(Números
15:30)
“Mas a pessoa que faz algo de propósito. . . está blasfemando contra Jeová e
será eliminada dentre seu povo. Visto que desprezou a palavra de Jeová e violou
o seu mandamento, essa pessoa sem falta deve ser eliminada. Ela responderá pelo
seu erro.’
Vou
utilizar do recurso da ironia: Jeová não se
importa hoje da pessoa ficar dentro da congregação cometendo pecados sérios que
afetem a sua salvação. Não, Ele não se importa. Antes, Ele se importava, até
matando. Mas hoje Ele permite que essa pessoa fique até Ele resolver tirar a
vida dela. Por enquanto, deixa ela no meio do povo de Deus, afinal, já que ela
vai perder a vida, porque deveria perder o convívio com seus irmãos também, não
é?
Prezado, eu acredito que
não devemos ir “além das coisas que estão escritas”. (1 Coríntios 4:6) Se você
quiser usar de ironia, é um direito seu; eu não me ofendo. Ainda assim, eu lhe
responderei com “profundo respeito”. (1
Pedro 3:15)
A lei mosaica não serve
como base para a desassociação da congregação cristã. Mesmo
porque um exemplo que você citou foi a pessoa ser executada por ter tocado em
um cadáver, ficado impura, e não tendo se purificado posteriormente. Neste caso
a pessoa seria executada sob a lei mosaica. É inconcebível da parte de Jeová
que tal pessoa não seja ressuscitada e que a salvação eterna dela esteja
perdida só porque ela tocou em um cadáver. Isso tornaria a moral de Jeová
incompreensível e ‘inferior a de muitos homens’, conforme disse nosso irmão Charles
Taze Russell. Portanto, o exemplo que você citou mostra que, mesmo em caso de
pena de morte no antigo Israel, isso não significava a condenação eterna da
pessoa.
Veja, por exemplo, o caso
dos habitantes de Sodoma e Gomorra. Eles foram executados por Deus, mas Jesus
disse que eles estarão vivos “no dia do julgamento”. (Mateus 11:20-24)[1]
Isso significa que serão ressuscitados, mesmo tendo sido punidos por Deus com a
morte. Mesmo a mulher de Ló, que morreu em punição da parte de Deus, também
será ressuscitada, pois ela não era má, e tudo que ele praticou de errado foi
“olhar para trás”. Dizer que ela recebeu a condenação eterna por “olhar para
trás” e que não tem mais esperança de ressurreição e salvação para viver na
Terra vira a justiça de Jeová de cabeça para baixo, pois muitas pessoas que
fizeram coisas bem piores que a ela serão ressuscitadas. Portanto, os exemplos
das Escrituras Hebraicas apenas nos mostram que não há relação entre execução da
parte de Deus e a condenação eterna (isto é, ter a salvação anulada). E mesmo
que houvesse, isso não significaria que, na congregação cristã, o pecado que
anula a salvação justificaria a desassociação do membro da congregação.
Eu nunca disse que “Jeová
não se importa” se uma pessoa com atitudes pecaminosas ficar dentro da
congregação. O ponto é que uma pessoa só poderá ser desassociada se houver uma
base bíblica clara, imutável, universal (i.e., que se aplique a todos em todas
as eras), não que mude como tempo conforme variam as opiniões dos membros do
Corpo Governante da organização religiosa Testemunhas de Jeová.
Os textos que você citou
não falam da desassociação da congregação cristã e nem servem como base para
desassociar alguém por um motivo que não foi apresentado no Novo Testamento
como passível de desassociação.
Conforme já apresentei e
você ignorou, os que praticam o ciúme e a inveja – duas obras da carne –, não
herdarão o reino de Deus. (Gálatas 5:19-21) No entanto, ninguém será
desassociado por ciúme nem por inveja. Portanto, os pecados que anulam a
salvação não necessariamente requerem a desassociação da pessoa, pelo menos não
todos eles.
Nota:
[1] Leia A Sentinela de 15/9 de 1965, pp 553-559, par. 1-31.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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Comentários
Por favor, nao se importa de fazer uma postagem explicando esta sua visao / interpretacao que contradiz a passagem de Judas 7 ? Obrigado. Abrasso.