Fonte: jw.org
Os trinitaristas costumam citar
a gramática da língua grega usada no Novo Testamento para tentar provar a
doutrina da Trindade. Porém, surgem as seguintes questões: a gramática tem o
poder de determinar uma doutrina religiosa? Até que ponto a gramática consegue
determinar como uma passagem bíblica deve ser traduzida?
O carro-chefe dos textos bíblicos
citados pelos trinitaristas para tentar provar a coigualdade entre Jesus Cristo
e seu Pai é João 1:1. De acordo com traduções trinitaristas, este texto reza: “No princípio era
o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” (Almeida
Corrigida Fiel) Muitos trinitaristas afirmam ostensivamente que o termo “DEUS”,
quando aplicado ao Verbo, de acordo com a gramática grega, jamais poderia ser
vertido com letra inicial minúscula, como verte a Tradução do Arcebispo Newcome: “A Palavra era um deus.” – The New Testament, in An Improved
Version, Upon the Basis of Archbishop Newcome’s New Translation: With a
Corrected Text, Londres, 1808.
Os trinitaristas
costumam fazer duas afirmações sobre esta forma de traduzir: (1) no grego usado
na Bíblia não existe artigo indefinido (“um”); (2) a estrutura em que se
encontra a frase “a Palavra (ou o Verbo) era Deus” não permite que o substantivo “DEUS” seja vertido com inicial
minúscula.
Com
relação à primeira afirmação, o ponto não é a língua grega possuir ou não
artigo indefinido, e sim o fato de ela ter substantivos indefinidos. Visto que
ela possui substantivos indefinidos, ou não definidos, estes podem ser acompanhados
do artigo indefinido “um” ou “uma” em línguas que possuem tais artigos
indefinidos.
Por
exemplo, as traduções trinitaristas costumam verter Atos 28:6 da seguinte
forma: “E eles esperavam que [o apóstolo Paulo] viesse a inchar ou a cair morto
de repente; mas tendo esperado já muito, e vendo que nenhum incômodo lhe
sobrevinha, mudando de parecer, diziam que era um deus.” (Almeida
Corrigida Fiel) Neste caso, os trinitaristas não criam objeções ao uso do
artigo indefinido. Assim, a oposição ao uso do artigo indefinido nas traduções
de João 1:1 em línguas que possuem tal artigo não se baseia em gramática, mas
sim em preconceito.
Com relação à segunda afirmação, os
trinitaristas costumam citar a regra de Colwell, que afirma: “Um predicativo nominativo substantivo anartro
não possui artigo quando precede o verbo.” Será que esta regra
impede a tradução “um deus”, ou “deus” com inicial minúscula, quando este
substantivo é aplicado ao Verbo (“Palavra”)?
Como
no grego bíblico não existe artigo indefinido, o que Colwell quis afirmar é que
“um predicativo nominativo substantivo anartro não possui artigo [definido] quando
precede o verbo”. Assim, o objetivo desta regra é explicar por que
o termo “DEUS” aplicado ao Verbo na parte final de João 1:1 não possui artigo definido. Porém,
esta regra não afirma que o termo “DEUS” neste caso seja definido ou
indefinido. Colwell afirmou: “[O substantivo] é indefinido nessa colocação
apenas quando o contexto o exige.” Ele próprio reconheceu que a
gramática não consegue determinar se um substantivo anartro (sem artigo
definido), na posição de predicativo
nominativo, e vindo antes do verbo, é definido ou não. É o contexto que
determina isso. Ou seja, a discussão sobre isso não é gramatical, e sim contextual,
interpretativa. Para entender bem este assunto, veja os artigos abaixo:
João1:1 e a regra de Colwell (Parte 1)
João 1:1 e aregra de Colwell (Parte 2)
João 1:1 e a regrade Colwell (Parte 3)
Alguns, devido ao desconhecimento da
língua grega usada na Bíblia, pensam que os unitários traduzem “deus” (com
letra minúscula) pelo fato de o substantivo “DEUS” neste caso, em João 1:1, não
possuir artigo definido. Alegam que os unitários deveriam também verter “deus”
com inicial minúscula quando não possui artigo definido e se refere ao Pai. Sobre
isso, veja o que declarou o artigo “O que determina que a parte final
João 1:1 possa ser traduzida ‘um deus’?”:
Os que desconhecem o idioma grego antigo, ou são leigos
quanto a ele, não entendem que a tradução “um deus” não depende apenas da
ausência do artigo definido. Em vez disso, tem a ver com a palavra theós (“deus”) ser um
substantivo indefinido. E é o contexto (não a gramática) que irá
determinar se a palavra theós em questão é indefinida ou definida.
É evidente que, quando aplicado ao
Pai, o substantivo “DEUS” é definido, mesmo que não possua o artigo definido “o”.
Por outro lado, também é evidente que o substantivo “DEUS”, quando aplicado ao
Filho (o Verbo) em João 1:1, não é definido. O artigo supracitado mostra isso
no seguinte comentário:
Visto que o Lógos (Verbo) estava com “O” Deus, ele não poderia ser “O” Deus com quem ele estava. Uma pessoa que está com alguém não é a mesma pessoa com quem ela está!
Inclusive, tal
interpretação entraria em conflito com a própria doutrina da Trindade, a qual
apregoa a separação de Pessoas. Ou seja, a Trindade não afirma que o Pai e o
Filho são a mesma Pessoa, e sim que são duas pessoas distintas que
formam (juntos com o “Espírito Santo”) um só Deus. Porém, entender que o Verbo
é “O” Deus com quem ele estava seria afirmar que o Verbo é o Pai, algo que nem
a Trindade nem a Bíblia afirmam.
A construção argumentativa unitária acima se baseia no contexto de João 1:1, e no contexto da inteira Palavra de Deus, e está em harmonia com este contexto. E, como vimos, a gramática tem suas limitações, e não deveria ser deturpada para promover doutrinas religiosas. As doutrinas devem ser determinadas pelo contexto da inteira Palavra de Deus.
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