Esta é a terceira parte da série
que considera uma conversa significativa sobre temas bíblicos que ocorreu entre
o autor deste site e uma pessoa num
grupo apologético do Facebook.
Alcinei:
Bom dia.
Em primeiro lugar, a palavra que
as T. J. [Testemunhas de Jeová] traduzem por “produziu” e que algumas versões
por “criou”, é qanáh em hebraico.
Essa palavra é empregada frequentemente em Provérbios, nunca com o sentido de “CRIAR”,
mas sempre com sentido de “adquirir” ou “comprar”. Ou seja: adquirir com
dinheiro (Provérbios 1.5; 4.5,7; 8.22; 15.32; 16.16; 17.16; 18.15; 23.23). Esse
também é o seu significado consistente em cerca de 70 outras ocasiões em que a
palavra é empregada no restante do Antigo Testamento. Então, você não pode
dizer que Jesus é uma criatura baseado nesta palavra.
Apologista da verdade:
Prezado Alcinei:
O verbo qanáh também tem o sentido de “criar”, “produzir”. Isto é evidente
em Deuteronômio 32:6, onde lemos: “É a Jeová que persistis em fazer assim, ó
povo estúpido e nada sábio? Não é ele teu Pai que te produziu, Aquele que te fez e passou a dar-te estabilidade?”
Note que o verbo “produziu” está relacionado com o verbo “fazer” e com o
substantivo “Pai”. Neste caso, qanáh
é coerentemente vertido por “produzir”. Então, contrário ao que você afirmou, é
possível “dizer que Jesus é uma criatura baseado nesta palavra”. Novamente,
entramos no campo da hermenêutica, pois a linguística admite ambos os sentidos
em qanáh, de “possuir” e de
“produzir, criar”.
E, segundo a hermenêutica, qual
seria a tradução mais coerente em Provérbios 8:22? A tradução “O Senhor me
possuiu no princípio de seus caminhos” (Almeida
Corrigida Fiel) dá a entender que a sabedoria já existia à parte de Deus,
que veio a possuí-la depois. Isto seria um absurdo. Deus sempre foi sábio. Além
disso, o contexto aponta para a tradução “me criou” para qanáh. O verso 24 diz a respeito da “sabedoria”: ”fui
gerada”; e o verso 25 diz: “eu nasci”. – Almeida
Atualizada.
Alcinei:
Boa noite.
Qanáh nunca é usado no livro de Provérbios como CRIAR!!!!
O senhor não pode usar Deuteronômio
32.8 para definir o texto em apreço, pois a sua tradução não está PRODUZIU, e
sim TROUXE A EXISTÊNCIA, e a minha “adquiriu”. Vamos voltar a Provérbios.
Apologista da verdade:
O fato de um escritor usar
majoritariamente um termo em um sentido é significativo, mas não é conclusivo.
Pois é possível um escritor usar o mesmo termo em sentidos diversos. Por
exemplo, no próprio livro de Provérbios qanáh
é usada como “adquirir” e como “comprar”. (Provérbios 19:8; 23:23) Embora tais
significados tenham certa semelhança, evidentemente não significam a mesma
coisa. E não faria sentido entender em Provérbios 8:22 o sentido de “comprar”,
com a tradução “Jeová me comprou no princípio do seu caminho”. Além disso, uma
palavra deve ser examinada à luz da Bíblia inteira, e não apenas de seu uso em
um determinado livro. “Toda a Escritura é inspirada por Deus”. – 2 Timóteo
3:16.
Como já argumentei acima, o
sentido de “criar”, ou “produzir”, está coerente com o contexto de Provérbios
8:22-31, O verso 24 diz a respeito da “sabedoria”: ”fui gerada”; e o
verso 25 diz: “eu nasci”. (Almeida
Atualizada). Assim, a sabedoria figurada nesta passagem não foi possuída
por Deus, mas criada: veio a existir.
O texto de Deuteronômio pode sim
ser usado para demonstrar que qanáh
não tem apenas o sentido de “possuir, adquirir”, mas também de “criar,
produzir, trazer algo à existência”.
Alcinei:
Boa noite, estamos voltando aos
mesmos textos bíblicos, mas vamos analisar novamente cada um.
Provérbios 8.22, 23: O senhor
sabe que qanáh neste texto não pode
ser usado como CRIAR, ou PRODUZIR, pois algo que é criado, ou produzido, ele
tem um tempo em que não EXISTIA. Ora! É inadmissível dizer que Deus não tinha
sabedoria; seria um Deus burro!!! OU SEJA, EXISTIA EM ALGUM TEMPO SEM
SABEDORIA?
Então esta questão que o senhor
disse que a SABEDORIA não foi possuída, e sim VEIO A EXISTIR, ESTÁ FORA DO
CONTEXTO. Qanáh, em todo livro de Provérbios,
nunca é traduzido como “CRIAR” e sim “ADQUIRIR”, “COMPRAR” ou “POSSUIR”.
Apologista da verdade:
Prezado Alcinei:
É claro que é inadmissível achar
que houve um tempo em que Deus não tinha sabedoria. Eu já disse isso. Por isso,
tal “sabedoria” em Provérbios 8:22-31 não pode ser a qualidade abstrata da
sabedoria. Mesmo que qanáh fosse
traduzida como “possuiu”, daria a entender que Deus não tinha sabedoria antes
de tê-la possuída. Já comentei isso antes. Por isso, tal texto faz referência a
um ser que veio a existir num dado momento, e que participou com Deus na
criação. Tal descrição se adequa somente ao Filho primogênito de Deus, Jesus
Cristo. Diante dessa realidade, a tradução “produziu”, ou “criou” (Septuaginta) fica coerente.
Quanto aos demais textos do
livro de Provérbios em que qanáh
ocorre não ter o sentido de “criar”, ou “produzir”, já argumentei acima.
[Continua na parte 4.]
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada pelas Testemunhas de Jeová.
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