Fonte: jw.org
Jesus declarou: “A respeito daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem
os anjos dos céus, nem o Filho, mas somente o Pai.” (Mateus 24:36) Um
trinitário afirmou que a frase “somente o Pai”
não exclui o “Espírito Santo”. E, para dar sustentação à sua afirmação,
ele cita alguns textos bíblicos, os quais serão examinados neste artigo.
Dois textos citados em apoio de sua
declaração são Mateus 11:27 e 1 Coríntios 2:10, 11. Em Mateus 11:27
lemos a declaração de Jesus: “Ninguém conhece plenamente o Pai, exceto o
Filho.” E em 1 Coríntios 2:10, 11 temos a
declaração do apóstolo Paulo, nestas palavras: “Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito
penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos
homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que
nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus,
senão o Espírito de Deus.” – ARC.
À base dessas duas passagens, o referido trinitário afirmou que haveria contradição
na Bíblia se entendêssemos literalmente o que Jesus disse em Mateus 11:27 – que
somente ele conhece plenamente o Pai,
e se entendêssemos literalmente 1 Coríntios 2:10, 11, que afirma que somente o
“Espírito Santo” conhece plenamente as coisas de Deus. Segundo o trinitário,
Mateus 11:27 inclui o “Espírito Santo” e 1 Coríntios 2:10, 11 inclui o Filho,
Jesus Cristo. Com base nisso, ele afirma que a declaração de Jesus em Mateus
24:36 – “somente o Pai – inclui também o “Espírito Santo”.
Contudo, um exame mais detido de 1 Coríntios 2:10, 11 revela que tal
argumento não procede. Neste texto, o apóstolo Paulo explica a relação do
“Espírito Santo” com Deus usando a relação do espírito do homem com o homem.
Paulo argumenta que, assim como somente o espírito do homem sabe as coisas do
homem, do mesmo modo somente o “Espírito de Deus” sabe as coisas de Deus. O que
é o “espírito do homem”? Algum ser pessoal separado do homem? Não. Trata-se
evidentemente de algo impessoal dentro do próprio homem, que envolve sua mente, seus sentimentos e suas emoções. Semelhantemente, o chamado “Espírito de Deus” não
é uma Pessoa espiritual, e sim algo do próprio Deus, envolvendo sua mente, bem como seus sentimentos e suas emoções. Prova disso é o fato de o verso 10 falar de “seu Espírito”, e o verso 11 menciona tal
“Espírito” como “o Espírito de Deus”.
Assim, trata-se de algo pertencente a Deus, de algo que é parte do próprio
Deus.
E quem é o “Deus” a quem Paulo se refere em sua carta? Lemos no primeiro
versículo de sua Primeira Carta aos Coríntios: “Paulo, chamado para ser
apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus.” (1 Coríntios 1:1, ARIB) Evidentemente, Paulo usa o termo
“Deus” para se referir ao Pai. Logo, o “Espírito de Deus” é o “Espírito” do
Pai. Tal “Espírito” não é uma Pessoa à parte do Pai, do mesmo modo que o
“espírito do homem” não é uma pessoa à parte do homem, mas representa o homem
no íntimo. Logo, o “Espírito” do Pai representa o Pai no íntimo. Evidentemente
que somente o íntimo do Pai – que envolve seus pensamentos, sentimentos e
emoções – o conhece, pois se trata Dele mesmo. Não está fazendo alusão a uma
Pessoa separada dele. Trata-se de uma figura de linguagem que mostra que o
íntimo de cada ser é o que mais conhece tal ser – seja o íntimo do homem em
relação ao próprio homem, seja o íntimo de Deus, o Pai, em relação a Ele mesmo.[1]
Por outro lado, tanto o texto de Mateus 11:27 quanto o texto de Mateus
24:36 dizem respeito a pessoas distintas do Pai. Mateus 24:36 cita os anjos do
céu e o Filho. Jesus afirmou que nenhum destes sabia algo que somente o Pai
sabia. Isto gera uma dificuldade para os trinitários. Pois, se o “Espírito
Santo” é uma pessoa distinta do Pai, ele também não sabia. E se ele é algo
impessoal dentro do próprio Deus, o Pai, isso explica porque tal “Espírito”,
figuradamente, sabe as coisas de Deus.
Outro texto citado pelo referido trinitário é Apocalipse 19:12, que
declara o seguinte a respeito do glorificado Senhor Jesus Cristo: “E tinha um nome escrito
que ninguém sabia, senão ele mesmo.” (ARC)
O supracitado trinitário argumenta então: ‘Será que o Pai não
conhece também esse nome?’
Neste caso, o trinitário confunde o uso absoluto com o uso relativo das
palavras. Podemos afirmar que ninguém conhece
algo nos referindo a um contexto específico de pessoas, e não a todos os seres
pessoais que existem. Um exemplo deste uso relativo das palavras se encontra em
Deuteronômio 34:6, que afirma sobre Moisés: “Ninguém sabe onde está sua
sepultura.” Neste caso, o pronome indefinido “ninguém” está num sentido
relativo. Pois Deus sabia, visto que o mesmo texto afirma que foi Jeová quem
enterrou Moisés. Miguel, o arcanjo, evidentemente também sabia, pois Judas 9
afirma que ele “disputava [com o Diabo] a respeito do corpo de Moisés”.
O mesmo sentido relativo é encontrado em Apocalipse. Os fieis vencedores
recebem de Jesus uma simbólica “pedra branca”, na qual “está escrito um novo
nome, que ninguém conhece, exceto aquele que a recebe”. (Apocalipse 2:17)
Evidentemente, o próprio Jesus conhece tal “novo nome”, pois é ele quem concede
tal “pedra” onde está tal novo nome. E o próprio Deus, que “sabe todas as
coisas”, também conhece tal nome. (1 João 3:20) “Ninguém”, neste caso,
refere-se a outros além de Deus, de Jesus e dos fieis vencedores que recebem
tal “pedra”.
Do mesmo modo, Apocalipse 19:12 faz uso relativo das palavras. No verso
13 Jesus é referido como “a Palavra de Deus”. Portanto, ele é propriedade de
Deus. Tudo ele recebeu de Deus, inclusive o mencionado “nome” do verso 12.
Porém, em Mateus 24:36 encontramos um sentido absoluto dos termos. Em
vez de usar apenas o termo genérico e indefinido “ninguém”, essa passagem
menciona personagens específicos que não sabiam o dia e a hora: os anjos e
Jesus Cristo. “Somente o Pai” sabe de algo num contexto em que Jesus citou a si
mesmo e os anjos. Além disso, encontramos uma progressão, ou gradação, na
menção desses personagens: “ninguém”,
“nem os anjos dos céus, nem o Filho”. O “Espírito Santo” não é
mencionado entre esses seres pessoais porque não é uma pessoa, e sim a energia que
emana do próprio Deus. Portanto, nenhum outro ser além do Pai sabia “daquele
dia e daquela hora”.
Nota:
[1] Veja
também o artigo “A versão Septuaginta prova a impessoalidade do ‘Espírito Santo’?”.
Explicação das siglas usadas:
ARC: Almeida Revista e Corrigida.
ARIB: Almeida Revisada Imprensa
Bíblica.
Referências
Apocalipse 19:12.
Almeida Revista e Corrigida. Disponível
em: <https://www.bible.com/pt/bible/212/REV.19.ARC>.
1 Coríntios 2:10, 11. Bíblia
Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/2/10,11>.
1 Coríntios
1:1. Bíblia
Online. Disponível em: <https://www.bibliaonline.com.br/aa/1co/1>.
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados,
desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários