Um leitor escreveu:
Olá,
Incansável Apologista da Verdade!
Fiquei
muito intrigado com o texto bíblico de Jó 12:10 que, na Tradução do Novo Mundo
Com Referências, declara: “Tendo ele na mão a alma
de todo o vivente e o espírito de toda a carne de homem.”
Visto
que as Testemunhas de Jeová entendem que alma e espírito não são a mesma
coisa, não estaria essa passagem, que contém um paralelismo poético, indicando
uma equivalência entre esses termos?
Desde
já, agradeço o espaço que você dá para compartilharmos nossas ideias.
Resposta:
Na Bíblia, nem todo paralelismo
expressa equivalência. Vejamos exemplos que comprovam isso.
Lemos em Isaías 1:26: “E
vou novamente trazer de volta juízes para ti, como no princípio, e conselheiros
para ti, como no início. Depois serás chamada Cidade de Justiça, Vila Fiel.”
Juízes e conselheiros não
são, estritamente, termos equivalentes. Aconselhar e julgar são atos que se
complementam, mas não significam a mesma coisa. Ademais, “cidade” e “vila” também
não são sinônimos.
Também lemos em Jeremias
49:25: “Como é que não foi abandonada a cidade
de louvor, a vila de exultação?”
Sobre a relação entre
cidade e vila, lemos na obra Estudo
Perspicaz das Escrituras, (volume 1, p. 502, verbete “Cidade”):
Cidade.
Área compacta, povoada, maior em
tamanho, população ou importância que uma vila ou aldeia. A palavra
hebraica ʽir,
traduzida “cidade”, ocorre quase 1.100 vezes nas Escrituras. Às vezes se usa a
palavra qir·yáh (vila) como sinônimo ou num paralelismo — por exemplo: “Depois serás chamada Cidade [ʽir]
de Justiça, Vila [qir·yáh] Fiel”, ou: “Como é que não foi abandonada a
cidade [ʽir]
de louvor, a vila [qir·yáth] de exultação?” — Is 1:26; Je 49:25.
(Negrito acrescentado.)[1]
Outro exemplo de não equivalência em
paralelismo poético é encontrado em Provérbios 25:13, onde lemos: “Como
a neve refrescante no dia da
colheita é o mensageiro fiel para os
que o enviam, pois ele reanima o seu senhor.” Neve e mensageiro não são a mesma
coisa. A semelhança está no efeito que ambos produzem: ambos restituem o vigor
e as forças.
No Salmo 105:15 encontramos o
paralelismo entre “ungidos” e “profetas”. Tal texto afirma: “Não toqueis nos
meus ungidos e não façais nada de
mal aos meus profetas.” Tais termos
não são sinônimos; não significam a mesma coisa. Nem todos os referidos como
ungidos na Bíblia foram referidos como profetas. E nem todos os mencionados
como profetas foram ungidos. Por exemplo, em Gênesis 20:7 Abraão é referido por
Deus como “profeta”, mas não há nenhum registro bíblico de que ele tenha sido
ungido com óleo. Mesmo o termo “ungido”, no seu sentido ampliado de alguém
designado por Deus, não é sinônimo ou equivalente de “profeta”.
Vejamos agora o texto de Amós 7:9,
16:
“E os altos de Isaque hão de ser desolados e os próprios santuários de Israel serão devastados;
e levantar-me-ei contra a casa de Jeroboão com uma espada. E agora ouve a
palavra de Jeová: ‘Estás dizendo: “Não deves profetizar contra Israel e não deves soltar nenhuma
[palavra] contra a casa de Isaque”?’”
“Altos” e “santuários”
possuem boa relação de semelhança entre si, mas não são equivalentes. Também não são equivalentes os nomes “Isaque”
e “Israel”, ou seja, não se referem à mesma pessoa. Isaque não era Israel, mas foi antepassado (pai) de Jacó, que
recebeu o nome de Israel.
O fato é que existem vários tipos
de paralelismo poético, conforme explicado na obra Estudo Perspicaz das Escrituras (volume 2, pp.
300-301, verbete “Hebraico”).
Existe
o paralelismo sinônimo, conforme
vemos no Salmo 24:1: “A
Jeová pertence a terra e o que a enche, o solo produtivo e os que moram nele.” Como explica a obra acima,
“os termos ‘a terra’ e ‘o solo produtivo’ são sinônimos poéticos, como também o
são ‘o que a enche’ e ‘os que moram nela’”.
Mas há paralelismos poéticos
que expressam ideias contrárias, a exemplo do Salmo 37:9, onde lemos: “Pois os próprios malfeitores serão decepados, mas os que esperam em Jeová são os que possuirão a terra.” Este é um
caso de paralelismo antitético, no qual incide uma antítese – ideias opostas.
No paralelismo sintético (também chamado formal e construtivo), a segunda parte não apresenta o mesmo pensamento da primeira,
nem formula um contraste, mas produz uma ampliação
da primeira parte e acrescenta a ela uma nova ideia. Vemos um exemplo desse tipo de paralelismo no Salmo
19:7-9, que reza:
“A lei de Jeová é perfeita, fazendo retornar a
alma. A advertência de Jeová é fidedigna, tornando sábio o inexperiente. As
ordens de Jeová são retas, fazendo o coração alegrar-se; o mandamento de Jeová
é limpo, fazendo os olhos brilhar. O temor de Jeová é puro, permanecendo de pé
para todo o sempre. As decisões judiciais de Jeová são verdadeiras;
mostraram-se inteiramente justas.”
Os substantivos “lei”, “advertência”, “ordens”, “mandamento”,
“temor” e “decisões judiciais” possuem relação de semelhança entre si, mas
definitivamente não são termos equivalentes. Na realidade, uma nova ideia, que
tem certa ligação com a primeira, é construída em sequência.
Este último tipo de paralelismo poético parece ser
o caso do texto citado pelo leitor – o texto de Jó 12:10.
Lemos em Jó 12:9, 10: “Qual entre todos estes não
sabe muito bem que a própria mão de Jeová fez isso, tendo ele na mão a alma de todo o vivente e o espírito de toda a carne de homem?”
A Bíblia mostra que alma e espírito não significam a
mesma coisa. Prova disso é o que lemos em Hebreus 4:12: “Porque a palavra de
Deus é viva e exerce poder, e é mais afiada do que qualquer espada de dois
gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e da sua
medula, e é capaz de discernir os pensamentos e as intenções do coração.”
Juntas e medula não são a mesma coisa, tampouco
pensamentos e intenções do coração o são. Mas há uma relação entre tais coisas.
Do mesmo modo, alma e espírito não significam a mesma coisa, mas há uma relação
entre eles: a alma (o ser vivo) precisa de espírito (força de vida) para viver. Sobre a destruição causada pelo Dilúvio, lemos o
seguinte: “Tudo
o que tinha fôlego do espírito de vida em suas narinas, tudo o que havia na
terra seca, morreu.” – Almeida Atualizada.
[1] Produzida pelas Testemunhas de Jeová.
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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