Fonte: jw.org
O livro de Atos dos Apóstolos, capítulo 10, contem
um relato que tem sido alvo de controvérsias no que diz respeito a se os
animais declarados impuros na Lei mosaica foram ou não purificados.
Lemos nesta passagem:
“E [Pedro] tendo
fome, quis comer; e, enquanto lho preparavam, sobreveio-lhe um arrebatamento de
sentidos, e viu o céu aberto, e que descia um vaso, como se fosse um grande
lençol atado pelas quatro pontas, e vindo para a terra. No qual havia de todos
os animais quadrúpedes e feras e répteis da terra, e aves do céu. E foi-lhe
dirigida uma voz: Levanta-te, Pedro, mata e come. Mas Pedro disse: De modo
nenhum, Senhor, porque nunca comi coisa alguma
comum e imunda. E segunda vez lhe disse a voz: Não faças tu comum ao que Deus purificou. E aconteceu isto por três
vezes; e o vaso tornou a recolher-se ao céu.” – Atos 10:10-16, Almeida Corrigida Fiel.
Os adventistas
contendem que essa passagem não afirma que os animais declarados impuros em
Levítico 11:1-8 e em Deuteronômio 14:3-8 foram purificados. Examinemos os
argumentos deles para isso.
Explicação do sentido figurado ou
representativo
A explicação
recorrente dos adventistas é a de que o contexto diz respeito à evangelização e
conversão dos gentios ao cristianismo (no caso específico, o oficial do exército
romano Cornélio, seus familiares e seus amigos). Deus estaria usando os animais
impuros como símbolos dos gentios. Assim, a purificação dos animais impuros
representa, na realidade, a purificação dos gentios. Citam como fundamento
disso Atos 10:28, que registra as palavras do apóstolo Pedro: “Vós bem sabeis
que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame
comum ou imundo.” – ACF.
De fato, a visão
do lençol com toda espécie de animais, dada por Deus a Pedro, visava a preparar
Pedro para pregar o Evangelho a Cornélio e aos que estavam com este. Assim, a
argumentação acima, com base no contexto imediato, está correta, com exceção de
um pormenor que faz toda a diferença: uma
ilustração, ou símbolo, tem que se harmonizar com o que está sendo ilustrado,
ou simbolizado.
Ou seja, se a
visão dada a Pedro não significasse que os animais impuros foram de fato
purificados, isso não serviria de ilustração, ou símbolo, de que os gentios
foram purificados por Deus. Essa explicação simples, porém, extremamente poderosa
e lógica, tem ajudado adventistas sinceros a entender que Atos, capítulo 10,
afirma que os animais impuros foram de fato purificados. Afinal, a Lei dada a
Israel foi abolida como um todo, e não apenas parte dela. – Veja a série de
artigos Os “Dez Mandamentos” com seusábado semanal devem ser guardados pelos cristãos?
Explicação da “contaminação por associação”
Visto que a argumentação lógica de que o símbolo (ou ilustração) tem que se harmonizar
com o que foi simbolizado (ou ilustrado) derruba consistentemente a explicação
tradicional dos adventistas a respeito de Atos, capítulo 10, recentemente eles
têm recorrido a outra explicação: a da contaminação por associação.
Para entendê-la,
vejamos primeiro a resposta de Pedro a Deus após Deus lhe ordenar que ‘abatesse
e comesse’ os animais do lençol visionado. Pedro declarou: “De modo nenhum,
Senhor! Porque jamais comi coisa alguma comum
[de koinós] e imunda [de akáthartos].”
(Atos 10:14, Almeida Revista e Atualizada)
Observe agora a resposta de Deus a Pedro: “Ao que Deus purificou [de katharízo] não consideres comum [de koinóo].” (Atos
10:15, ARA)
Os adventistas
trazem à atenção os vocábulos “comum” (grego koinós) e “imundo”, ou impuro (grego akáthartos). Afirmam que koinós
tem a ver com um conceito rabínico conhecido como “contaminação por
associação”, segundo o qual algo puro se tornava impuro ao entrar em contato
com algo impuro.
Segundo a
argumentação acima, Pedro teria receio de ter contato com um gentio devido à
tradição rabínica da “contaminação por associação”, e que Deus teria lhe dado a
visão do lençol para rechaçar tal conceito.
De acordo com
esse conceito rabínico, que supostamente Pedro também acolhia, os animais
limpos do lençol visionado estariam contaminados por seu contato com os animais
impuros que também se encontravam no mesmo lençol. Conforme essa explicação adventista,
o vocábulo koinós (“comum”) se refere
aos alimentos puros que Pedro supostamente se recusou a comer por causa dos akáthartos (animais “imundos”) que
estavam também no lençol. A resposta de Deus a Pedro – “ao que Deus purificou [de
katharízo] não consideres comum [de koinóo]”
(Atos 10:15, ARA) – teria o sentido
de que o que foi declarado puro por Deus no Velho Testamento não pode ser considerado
contaminado pelo contato com o que é impuro [akáthartos]. Assim, Deus não teria purificado os alimentos “imundos”,
e sim teria declarado puros os alimentos que Pedro, devido à tradição rabínica,
considerava “comuns” (aviltados).
Para embasar
sua argumentação sobre a “contaminação por associação”, os adventistas citam
Atos 10:28, onde lemos as palavras de Pedro: “Vós bem sabeis que é proibido a
um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se
a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem
considerasse comum ou imundo.” (ARA) Pedro
ainda declarou: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo
contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é
aceitável.” – Atos 10:34, 35, ARA.
As implicações
da teoria da “contaminação por associação”
Seguindo esse
raciocínio, na visão dada a Pedro os animais “comuns” (koinós) representariam Pedro e os demais judeus que deveriam ir
até Cornélio, ao passo que o gentio Cornélio e seus familiares e amigos seriam
os “impuros” (akáthartos). As palavras
de Deus “ao que Deus purificou [katharízo] não consideres comum [koinoô]” (Atos 10:15, ARA) seriam uma confirmação a Pedro de
que ele e os demais cristãos judeus não seriam contaminados por entrar em
contato com os gentios.
Contudo, o
problema dessa teoria reside no que Pedro disse a Cornélio e aos seus amigos e
familiares em Atos 10:28: “Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se
ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou [por meio
da visão do lençol] que a nenhum homem
considerasse comum [de koinós] ou imundo
[de akáthartos].” (ARA) Segundo o raciocínio adventista, Pedro
e os demais judeus cristãos não poderiam ser considerados “comuns” [de koinós] por se associarem com gentios. Mas o texto afirma também
que “nenhum homem” deveria ser considerado “imundo” [de akáthartos], neste caso referindo-se ao gentio Cornélio e os demais
gentios que estavam com ele. Estes gentios não eram ‘imundos’ (akáthartos). Ou seja, Deus havia
purificado (katharízo) tais gentios
tementes a Deus.
E pelo
princípio lógico de que uma ilustração, ou símbolo, tem que se harmonizar com o
que está sendo ilustrado (ou simbolizado), os animais impuros do lençol teriam
de ter sido purificados! Pois, se os animais impuros não foram de fato purificados,
os gentios representados por eles também não o foram.
Assim, ambas
as teorias adventistas não subsistem a um escrutínio bíblico e lógico.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a
fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Parabéns pela matéria meu irmão.
Ademais, queria saber sobre um detalhe a respeito desse conceito rabínico sobre contaminação por associação que os ASD apregoam.
Tenho pelo menos duas perguntas:
1º Isso vale para tudo e para todos, pois Jeová usou um corvo (animal impuro) para alimentar Elias;
2º Seria lógico crer que Pedro se apegava a um conceito rabínico (tradição de antepassados) quando Cristo insistiu tanto com os discípulos para não se contaminarem com estes fermentos?
Um forte abraço Apologista.
Muito obrigado pela demonstração de apreço. Com relação às suas perguntas, um artigo futuro poderá analisar tais questões. A única referência não adventista sobre o tal conceito da contaminação por associação obtida na composição do artigo acima foi num site da Enciclopédia Judaica, neste link: https://www.jewishvirtuallibrary.org/red-heifer
Grande abraço e que Jeová o abençoe ricamente! - Provérbios 10:22.
Pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência;
Proibindo o casamento, e ordenando a abstinência dos alimentos que Deus criou para os fiéis, e para os que conhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações de graças;
Porque toda a criatura de Deus é boa, e não há nada que rejeitar, sendo recebido com ações de graças.
Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificada.
1 Timóteo 4:1-5
Está claro que toda a criatura que Deus criou é boa. Deus não criou os seres para serem comidos. Se analisarmos Genesis 1, Deus diz que deu a Adão e Eva toda a semente. Depois do pecado é que começou a morte e onsequentemente os homens começaram a comer os animais. Se pode comer de todos os animais, porque então aqui no Brasil não se come cachorro, gato, morcego, escorpião, aranha e outros bichos... Se tudo é permitido...