Fonte: Contracapa do livro “Cumprir-se-á, Então, o Mistério de Deus”
O artigo
inicial desta série abordou a expressão grega da parte final de Apocalipse 12:17: ἐχόντων τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (ekhónton
tèn martyrían Iesoû [“têm o testemunho de Jesus”]). Algumas traduções mantêm a tradução literal, sendo que
outras destacam o papel do cristão no que diz respeito ao testemunho
sobre Jesus, a exemplo da NM: “Têm a obra de dar testemunho de Jesus.”
A expressão τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (tèn martyrían Iesoû [“o testemunho de Jesus”]) ocorre em Apocalipse 1:2, 9; 12:17; 19:10 e 20:4.
Esta série de
artigos se propôs a analisar quatro elementos envolvendo a expressão grega τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ (tèn martyrían Iesoû [“o testemunho de Jesus”]):
1) o verbo “ter”; 2) o substantivo “testemunho”; 3) o nome próprio Jesus no
genitivo; 4) o fato de a expressão estar no acusativo,
e 5) o contexto no qual ocorre tal expressão.
Os dois primeiros
elementos foram analisados no artigo anterior. (Queira ver.) Este artigo
analisará o terceiro aspecto da expressão:
3. O
genitivo do nome “Jesus”
Algo que não
depende da gramática, e sim da semântica[1],
é determinar se um genitivo é subjetivo ou se é objetivo. Isso foi explicado na
série de artigos intitulados “Fé em Jesus” ou “fé de Jesus”?
Como o primeiro artigo da série supracitada mostrou,
O genitivo
subjetivo privilegia o sujeito, aquele que produz a ação, ao passo que no
genitivo objetivo a ênfase é no objeto, e o elemento no genitivo recebe a ação.
Assim, se Ἰησοῦ Χριστοῦ [de Jesus Cristo] for
tido como um genitivo subjetivo, então a passagem refere-se a um
atributo ou ação pessoal de Cristo: à fé produzida por Jesus, sua própria fé (ou a fidelidade de Cristo). Por outro lado, se a
expressão for entendida como um genitivo objetivo, ela se refere à fé recebida por
Jesus.
O mesmo se dá com a expressão
“testemunho de Jesus Cristo”. Pode significar o testemunho dado por Jesus (no caso de genitivo subjetivo), ou o testemunho
dado a respeito de Jesus Cristo
(genitivo objetivo).
O Léxico Grego de
Thayer prefere o sentido objetivo do genitivo Iesoû em Apocalipse 12:17, 19:10 e 20:4, e o sentido subjetivo em
Apocalipse 1:2, 9:
Com um genitivo do objeto Ἰησοῦ, Apocalipse
12:17 ; Apocalipse 19:10 ; Apocalipse 20:4 (χειν μαρτυρία [ter testemunho]) é
manter o testemunho, perseverar
firmemente em levá-lo, Apocalipse 6:9; Apocalipse 12:17; Apocalipse
19:10 (ver ἔχω, I. 1 d.); outros, no
entanto, explicam para que o dever de testificar
seja imposto a si mesmo); em outros lugares, o testemunho de
Cristo é o que ele dá a respeito de coisas divinas, das quais somente ele tem
conhecimento profundo, João 3:11, 32f; μαρτυρία Ἰησοῦ, aquele testemunho que
ele deu sobre eventos futuros relacionados com a consumação do reino de
Deus, Apocalipse 1:2 (cf. Apocalipse
22:16, 20); διά τήν μαρτυρίαν Ἰησοῦ Χριστοῦ, para receber este testemunho, Apocalipse 1:9.[2]
O livro The
Testimony of the Exalted Jesus – The ‘Testimony of Jesus’ inthe Book of Revelation (“O Testemunho do Jesus Exaltado – O ‘Testemunho de Jesus’ no
Livro do Apocalipse”, pp. 31-32) prefere o sentido subjetivo do genitivo Ἰησοῦ (Iesoû [“de Jesus”]) em Apocalipse 1:2:
Aqui, é claramente
epexegético[3] o
que João testificou: a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo. Em
outras palavras, ‘a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo’ são duas
maneiras de descrever a visão que João teve e depois escreveu para dar a
conhecer às igrejas. I. A tradução de Boxall do v. 2 capta a mensagem
claramente: João agora dá testemunho de todas as coisas que ele viu: a palavra
de Deus, isto é, o testemunho que o
próprio Jesus Cristo deu.
Embora a posição epexegética de hósa eìden [todas as coisas que viu] torne bastante certo que aqui ‘o testemunho de Jesus Cristo’ se refere à própria visão, há várias outras pistas neste sobrescrito que confirmam esta compreensão. A primeira é a relação entre a palavra de Deus e o testemunho de Jesus, que é mais naturalmente lido como um paralelo ou epexegético. Essa relação é esclarecida pelo versículo precedente, onde se afirma claramente que a visão é simultaneamente de Deus e de Jesus: uma revelação de Jesus Cristo que Deus lhe deu (v. 1). Aqui está Deus, com Cristo.
[…]
τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ Χριστοῦ é um testemunho de Jesus e deve ser entendido como outra maneira de descrever o que João viu e depois registrou. Dada a relação entre as duas frases, seria estranho que a primeira construção genitiva fosse subjetiva (isto é, referindo-se à ‘palavra de Deus’) e a segunda fosse objetiva (‘o testemunho sobre Jesus Cristo’).
‘’H μαρτυρίαν Ἰησοῦ’ está ainda ligado à revelação pela sua específica aparência como o testemunho de Jesus Cristo. Considerando que ocorrências posteriores da frase leem ‘o testemunho de Jesus’, a adição de Khistoû aqui provavelmente serve para amarrá-lo à frase anterior ‘uma revelação de Jesus Cristo’. Vincular a frase ao título inicial dá mais apoio à compreensão do testemunho de Jesus Cristo como uma referência à visão em si, visto que ‘άποκάλυψις Ἰησοῦ Χριστοῦ’ é provavelmente o apocalipse de [da parte de] Jesus Cristo. Embora a construção genitiva possa ser lida como ‘um apocalipse sobre Jesus Cristo’, é melhor entendida como ‘um apocalipse de [da parte de] Jesus Cristo’, dado que a frase que se segue (‘que Deus lhe deu para mostrar seus servos’) significa que deste ponto em diante, Cristo será aquele que dá a revelação de Deus. (Negrito acrescentado.)
The Testimony of the Exalted Jesus – The ‘Testimony of Jesus’ in the
Book of Revelation
A obra Devotions on the Greek New Testament, Volume Two: 52 Reflections toInspire and Instruct (“Devoções
sobre o Novo Testamento Grego, Volume Dois: 52 Reflexões para Inspirar e
Instruir”) opta pelo genitivo objetivo em Apocalipse 19:10, aceitando também a
possibilidade de um genitivo pleno (objetivo e subjetivo):
João e seus companheiros
crentes são identificados como aqueles que sustentam o testemunho de Jesus (καὶ ἐχόντων τὴν μαρτυρίαν Ἰησοῦ), no qual é provavelmente um genitivo objetivo,
porque o testemunho é algo que eles “têm” (ἐχόντων, isto é, “testemunho sobre Jesus”). Em outras partes, o povo de Deus tem ou mantém o
testemunho sobre Jesus (6:9; 11:7; 12:11, 17; 17:6; 20:4; e João somente em
1:2, 9). Dito isto, a possibilidade de
um genitivo pleno não pode ser descartada inteiramente – os vencedores têm
ou mantêm o testemunho tanto por e sobre
Jesus (cf. Rev [Apocalipse] 1:1: Ἀποκάλυψις Ἰησοῦ Χριστοῦ, “a revelação de/sobre Jesus Cristo”). (Negrito
acrescentado.)
Esta obra traduz ἡ γὰρ μαρτυρία Ἰησοῦ ἐστιν τὸ πνεῦμα τῆς προφητείας (he gàr martyría Iesoû estin tò pneûma tês profeteías [literalmente: “o pois testemunho de Jesus é o espírito
da profecia”]) interpretando o genitivo Ἰησοῦ (Iesoû [“de Jesus”]) como sendo objetivo, vertendo por “pois o testemunho sobre Jesus é o mesmo que o falado pelo
Espírito nesta profecia”. (Negrito acrescentado.)
Devotions on the Greek New Testament, Volume Two: 52 Reflections to
Inspire and Instruct
O artigo seguinte dará consideração à
questão da espécie de genitivo de Ἰησοῦ (Iesoû [“de Jesus”]) nos textos do
Apocalipse em questão.
Notas:
[1] Ramo da linguística que estuda o significado das palavras, frases e textos de uma língua.
[2] Disponível em: <http://biblehub.com/greek/3141.htm>.
[1] Ramo da linguística que estuda o significado das palavras, frases e textos de uma língua.
[2] Disponível em: <http://biblehub.com/greek/3141.htm>.
[3] Epexegese: a adição de palavras para esclarecer o significado. Palavras adicionadas com o propósito de esclarecer o significado.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
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