Fonte da ilustração: jw.org
O artigo anterior trouxe à
tona a questão envolvendo este tema. (Queira ver.) A partir deste artigo, serão
suscitados os argumentos de ambos os lados – dos que defendem que a expressão
correta é “fé em Jesus” e dos que defendem que é “fé de Jesus”.
Argumentos
em prol da tradução “fé de Jesus Cristo”
Traduzir por “fé em Jesus” incidiria em
tautologia
A obra Paul and Union with Christ: An
Exegetical and Theological Study (“Paulo e a União com
Cristo: Um Estudo Exegético e Teológico”), de Constantine R. Campbell, explica as razões para a versão “fé de Cristo”, ou “fidelidade de
Cristo”:
Ao passo que a frase διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ pode ser vertida como um genitivo objetivo –
significando por meio da fé em Jesus
Cristo (cf. HCSB, acima) – poderia bem ser um genitivo subjetivo – por meio da fidelidade de Jesus Cristo. A
principal razão para isso é a frase que segue: E nós temos crido em Jesus Cristo. Tomar διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ como indicando fé em Cristo torna a cláusula seguinte
tautológica [redundante, repetitiva], efetivamente dizendo a mesma coisa duas
vezes. A leitura genitiva subjetiva de πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ permite que duas ideias complementares sejam
expressas: primeiro, as pessoas são justificadas pela fidelidade de Jesus Cristo; e segundo, nós somos justificados
crendo em Cristo. Neste respeito, Paulo indica que a fidelidade e
consequentemente a justiça de Cristo são compartilhadas com os crentes.
Na passagem de Romanos 4:16, Paulo
usa uma construção genitiva sem um artigo definido, a qual é usada como
argumento de que só pode ser lido como um genitivo subjetivo, referindo-se à fé
de Abraão, não à fé dos cristãos em Abraão. Assim, entendem os proponentes
do genitivo subjetivo que esta passagem prova que Paulo usou construções
genitivas quando queria falar da “fé de” um indivíduo.
Ademais, propõe-se que o contexto
de Gálatas 2:16 sugere que Paulo está fazendo uma distinção entre os papéis da
fé de Cristo e a fé do crente em Cristo no processo de
justificação. Sugere-se um contraste entre as frases “nós tivemos fé em
Jesus Cristo” e “podemos ser justificados por pisteōs Christou”, sendo a segunda frase uma consequência da
primeira, não apenas uma atualização. Assim, tal passagem teria o seguinte
sentido: “Mas sabendo que um homem não é justificado através das obras da lei,
mas pela fé de Jesus Cristo, e nós tivemos fé em Jesus Cristo para que possamos
ser justos através da fé de Cristo e não através das obras da lei.”
Outro argumento incide sobre
Gálatas 2:21, que declara: “Eu não rejeito a bondade imerecida de Deus; pois,
se a justiça vem por meio de lei, Cristo realmente morreu em vão.” O
argumento seria o de que o contraste é entre a lei e Cristo, não entre obras e
fé. Seriam as ações de Cristo, não as do cristão, que Paulo
enfatiza. Visto que a justificação vem pela morte de Cristo, é a morte de
Cristo que é o exemplo essencial da fé mencionada nos versículos 16 e 20, pelo
qual Paulo vive.
Segundo os proponentes do genitivo
subjetivo, aderir ao conceito do genitivo objetivo seria colocar a ênfase sobre
o que os humanos fazem para promover a sua salvação, em vez de enfatizar o que
Cristo fez. Por outro lado, entende-se que o ato da justificação não é uma
resposta de Deus à fé humana em Cristo assim como não é a resposta de Deus à
observância humana da Lei. A justificação dada por Deus é o primeiro
movimento, é a iniciativa de Deus, realizada por ele por meio da morte fiel de
Cristo.
Assim, a expressão “fé em Cristo”
daria função exagerada ao homem e muito pouco a Cristo, deixando Cristo no
papel passivo de ser o objeto de nossa fé justificadora.
Então, com muitas questões em
Paulo, não é um "ou / ou". A fé de Cristo às vezes é enfatizada,
mas a ênfase na fé de Cristo não nega ou destrói a fé dos crentes. Nem a
fé de uma pessoa em Cristo torna a fé "antropocêntrica", como Cristo
é aquele em quem acreditamos.
Argumentos
em prol da tradução “fé em Jesus Cristo”
A repetição da ideia da “fé em Jesus” ocorre para dar ênfase
A obra Christ Died for Our Sins: Representation and Substitution in Romans and Their Jewish Martyrological Background (“Cristo morreu por nossos pecados: Representação e Substituições em Romanos e Sua Origem Judaica Martirológica”), de Jarvis Williams, afirma:
Em [Romanos] 3:20, depois da detalhada argumentação contra a justificação por meio de obras da lei, Paulo afirma que Deus não irá justificar ninguém “por obras de lei” (ἐξ ἔργων νόμου). Em 3:21-22, Paulo afirma que a justiça de Deus ocorre para o pecador “por meio da fé em Jesus Cristo” (διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ). Embora muitos contestem esta última tradução, a frase preposicional (εἰς πάντας τοὺς πιστεύοντας; “para todos os que creem”) em 3:22b esclarece o sentido de διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ em 3:22a. Muitos estudiosos lamentam que a interpretação precedente torna Paulo tão tautológico. Sua redundância ocorre aqui para ênfase. (Negrito acrescentado.)
A obra Commentary on Romans (“Comentário sobre Romanos”), de David G.
Peterson, explica a questão da repetição:
[…] em Romanos 3:22, se διὰ πίστεως Ἰησοῦ Χριστοῦ é vertida
“pela fé em Jesus Cristo”, a cláusula seguinte (eis
pántas toùs pisteoúontas, ‘para todo aquele que crê [exerce fé]) não é redundante porque destaca as
implicações universais da primeira. Paulo continuou a enfatizar a necessidade
de todos terem fé em Cristo com a
expressão οὐ γάρ ἐστιν διαστολή (pois
não há distinção). Isto qualifica a cláusula prévia e fornece uma ligação para
o próximo versículo. Isto tem o efeito de aplicar tanto o precedente quanto o
imediatamente seguinte “todos” tanto a judeus como a gentios (cf. 10:12). Neste
caminho, Paulo prepara-se para o argumento de que a promessa a Abraão de a
inteira humanidade ser abençoada por meio do seu descendente é cumprida em
Cristo (4:9-25).
Em outras
palavras, a suposta redundância em Gálatas 2:16, na expressão “depositamos
a nossa fé em Cristo Jesus, para sermos declarados justos pela fé em Cristo”
ocorreria para ênfase. E a expressão “a justiça de Deus por meio da fé em
Jesus Cristo para todos os que têm fé” não seria redundante em
vista da palavra “todos”, que destaca as implicações da primeira frase.
O próximo artigo desta série
mostrará o que fez um editor de assuntos bíblicos mudar seu conceito a respeito
de qual seria a tradução correta.
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