Artigo contribuído por “A Verdade é Lógica”.
Certo
leitor trinitário fez o seguinte questionamento (o questionamento foi
readaptado por conter muitos erros de ortografia):
Se
Jesus foi instrumento da criação, Senhor Apologista, Ele não ficou olhando. A
Palavra (Jesus), que é o Logus profarikós (Jesus na criação) e Logus
endiáthetos (Jesus na Eternidade), é a comunicação de Deus Pai. Pois Palavra
(Jesus) não se cria. Pois Deus não estava mudo quando falou e criou. Pois o
verbo (Jesus) é inato, é inerente de Deus, já estava com Deus. Pois para dizer
“Fiat Lux”: “Faça-se a luz”, necessita-se do verbo. O Pai é o arquiteto e Jesus
é o engenheiro. Jesus criou também! Ele não ficou olhando!
O Pai
pronuncia o verbo porque é Dele próprio, enquanto Pai. O Eterno não existiria
se não tivesse um filho que é o verbo. O princípio em Joao 1:1, e Apocalipse 3:14,
significa origem, fonte. Alfa é Jesus e Jeová. É o princípio absoluto. Ou seja,
está na Eternidade, e não no tempo. Portanto, criatura não cria! Em Isaías
43:10, Deus afirma: Não há outro Deus. Jesus Não é “deus” e nem criatura. Dois
deuses é abominação até para os judeus. Criatura não cria, não salva e não
perdoa. Quero que o senhor examine mesmo a profundidade deste mistério
desvendado.
[Fim do comentário do leitor.]
Resposta:
A Bíblia diz claramente que Jesus foi o
meio pelo qual Deus (não apenas a pessoa do Pai, mas Deus) criou todas as
coisas. (Provérbios 8:22-30) Na Bíblia, nós vemos muitas vezes Deus se
comunicando e agindo por meio de intermediários. Jeová Deus sente prazer em
incluir seus filhos e criaturas fiéis em seus propósitos. Veja alguns exemplos:
“[...]
Deus... achou bom revelar o seu Filho por
meu intermédio [...].” – Gálatas
1:15, 16.
“Mas
o Senhor ficou ao meu lado... para que, por
meu intermédio, se realizasse plenamente a pregação [...].” – 2 Timóteo 4:17.
Paulo foi o intermediário de Deus para
determinados propósitos de Jeová. Pode Paulo ser o intermediário de Deus e ao
mesmo tempo Deus? Aqui vemos claramente que Deus se alegra de usar
intermediários para muitas coisas. Veja outros exemplos:
“[...]
a Lei foi dada por intermédio de
Moisés [...].” – João 1:17.
“Ora, a Escritura...
declarou de antemão as boas novas a Abraão,
a saber: ‘Por meio de ti serão
abençoadas todas as nações.’” – Gálatas
3:8.
“[...]
a promessa... foi transmitida por
intermédio de anjos.” – Gálatas
3:19.
O
leitor continua:
“Pois Palavra (Jesus)
não se cria. Pois Deus não estava mudo quando falou e criou. Pois o verbo
(Jesus) é inato, é inerente de Deus, já estava com Deus. Pois para dizer ‘Fiat
Lux’: ‘Faça-se a luz’, necessita-se do verbo. O Pai é o arquiteto e Jesus é o
engenheiro. Jesus criou também! Ele não ficou olhando!”
Falácia
da ambiguidade. Isso ocorre quando o argumentador confunde os sentidos de um
vocábulo e passa a fazer argumentos baseado na confusão de tais sentidos. Jesus
não é a palavra consubstancial de
Deus. Como sabemos disso?
João 1:1 diz: “No princípio era a Palavra, e a Palavra estava
com Deus”. Note que João não diz que
a palavra estava em Deus, mas COM Deus. Assim sendo, é impossível que
o Logos, ou Jesus, seja “a Palavra” inerente a Deus. Ademais, a explicação dada
pelo leitor, de que “O Pai é o arquiteto
e Jesus é o engenheiro. Jesus criou também!” não é de caráter trinitário,
mas biteísta, ou seja, a crença em dois Deuses coiguais, não em duas pessoas
numa única deidade. É muito comum que isso ocorra da parte de trinitários: eles
se confundem em sua crença e passam a defender, por vezes, unicismo e biteísmo.
Isso não é Trindade.
Jesus é “a Palavra” no sentido titulado, não no sentido consubstancial. Ele mesmo disse isso:
“Mas
eu [Jesus] o conheço e obedeço à sua palavra.” – João 8:55.
Note
que Jesus, a Palavra, disse que obedecia a palavra de Deus. Nesta passagem, “a
palavra” citada por Jesus é a palavra inerente a Deus. Jesus falou que a
obedecia. Assim, mais uma vez, fica evidente que Jesus não é a palavra inerente
a Deus, mas “a Palavra” no sentido de ser o Porta-Voz de Jeová – o ser que transmite
a palavra de Jeová.
“Deus falou aos nossos antepassados por meio dos profetas, em muitas
ocasiões e de muitos modos. Agora, no fim destes dias, ele nos falou por meio de um Filho.” – Hebreus 1:1, 2.
Veja
que o escritor de Hebreus coloca a palavra de Deus em Jesus no mesmo sentido de
como era no caso dos profetas – porta-vozes de Deus – não no sentido
consubstancial.
O
leitor afirmou:
“O
princípio em Joao 1:1, e Apocalipse 3:14, significa origem, fonte.”
Não, não significa. “Princípio” no sentido de “fonte” (i.e.,
de onde vem, raiz propulsora, principiador) definitivamente não é o sentido de nenhum dos textos citados.
João 1:1 declara: “No princípio era a Palavra.” É
inadmissível que um teólogo pensante consiga acreditar que isso poderia ser
vertido: “No principiador era a
Palavra”, ou “Na raiz propulsora era
a Palavra”. “Princípio” é um estado de tempo.
Note que João não diz: “Na eternidade era a Palavra”, mas “no princípio”.
Quanto a “princípio da criação de Deus” em Apocalipse 3:14, nenhuma das outras vezes que a
expressão “princípio da criação” aparece na Bíblia significa “o principiador
da criação” ou “a raiz propulsora da
criação”.
“No
princípio [não é “de onde veio”, “raiz
propulsora”] da criação ‘Ele os fez homem e mulher”. – Marcos 10:6.
“Desde
o princípio [não é “de onde veio”; “raiz
propulsora”] da criação, que Deus criou”. – Marcos 13:19)
“Exatamente
como eram desde o princípio [não é “de
onde veio”; “raiz propulsora”] da criação”. – 2 Pedro 3:4.
Nos
três exemplos citados, “princípio da criação” significa “começo”, “início”, não
“raiz propulsora” tampouco “principiador”. Ademais, o texto de Apocalipse 3:14 é
claramente uma referência a Provérbios 8:22. A
Septuaginta
de Brenton
verte este texto em inglês:
“The Lord made me the beginning of his ways for his works.” (O Senhor me fez no começo dos seus caminhos para seus trabalhos.)
Definitivamente, “princípio”
significa “começo”, não “principiador” nem “raiz propulsora”.
O referido leitor ainda afirmou: “Em Isaías 43:10, Deus afirma: Não há outro Deus. Jesus Não é ‘deus’ e
nem criatura.”
Erro
de descontextualização. Esse texto foi dirigido a deuses falsos. Como sabemos
disso? Por três motivos:
1) Por
que o v. 12 se refere a “deus estrangeiro”, contextualizando a passagem;
2) Porque
o próprio Jesus citou o Salmo 82:6 quando foi acusado de alegar ser “um deus”
pelos judeus. (Leia João 10:31-36);
3) Porque
o mesmo texto diz “Além de mim não há Salvador”, mas Otniel é chamado de
“salvador” em Juízes 3:9. (Obviamente, num sentido inferior e diferente de como
Jeová é salvador);
Assim,
“não há outro Deus” além de Jeová no sentido de que Jeová é o Deus
Todo-Poderoso, nem outro Salvador no sentido que somente Jeová é Salvador. Isso
não significa que outros salvadores e deuses não possam existir em um sentido
diferente do modo como Jeová é Deus e Salvador. Esse conceito é comum entre os
judeus.
“Dois
deuses é abominação até para os judeus.” Quer abominação maior
para os judeus que a ideia de um Deus Trino? A Trindade é uma abominação para os
judeus! A ideia de Deus ser homem é abominação para os judeus! (Oséias 11:9) Os
judeus entendiam muito bem a ideia dos sentidos diferentes para a palavra
“deus” quando aplicada a outros seres que não são Jeová. (Veja o Salmo 82:1, 6)
Tanto é verdade que o próprio Jesus usou tal argumento contra os judeus que o
acusavam de blasfêmia, e funcionou.
“Criatura
não cria, não salva e não perdoa.” Jesus não é dito como
sendo o próprio Criador. Mas Deus dá poder a quem Ele quiser. Eu pessoalmente
acho muita prepotência de trinitários argumentarem que Deus não pode delegar
autoridades nem fornecer poder a quem Ele desejar para que se execute a vontade
Dele. Se Deus quer dar poder e autoridade para que alguém, uma criatura sua,
execute algo, então Ele dá. Se Deus quer dar autoridade para Jesus perdoar
pecados, então ele dá. Se Deus quer dar poder para Jesus executar a criação,
então ele dá. Nenhum trinitário tem autoridade para proibir a Deus de dar autoridade
e poder a quem Ele quiser.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a
fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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