“Todos os povos de língua portuguesa têm, deveras,
uma dívida de gratidão para com João Ferreira de Almeida, pelos esforços que
fez em disseminar a Palavra escrita de Jeová, o Grande Manancial das puras ‘águas da verdade’. Seu trabalho de tradução, realizado no Ceilão, na Índia e
na Indonésia, lá no século 17, tem tido resultados de longo alcance, até mesmo
em nossos dias.” – Revista Despertai! de 22 de
março de 1985, página 32.
Breve relato histórico da vida de Almeida
Tendo nascido em 1628,
Almeida foi criado por seu tio, um sacerdote, em Lisboa, com quem aprendeu
latim. Em 1642, já com 14 anos, passou a residir na possessão holandesa de
Batávia (agora Jacarta, capital da Indonésia), e se converteu à Igreja
Reformada Holandesa local. Entre 1644-45, ainda adolescente, traduziu todas as
Escrituras Gregas Cristãs (“Novo Testamento”) do latim para o português.
Após uma obra missionaria
como pastor da Igreja Reformada entre 1656-63 no Ceilão (agora Sri-Lanka) e em
Tuticorin, sul da Índia, retornou à Batávia, em 1663. Em 1670, com cerca de 42
anos, Almeida terminou a tradução das Escrituras Gregas Cristãs da língua
original, utilizando como base o Texto Recebido.
Almeida passou a dominar as
línguas bíblicas, e se empenhou em traduzir as Escrituras Hebraicas (“Velho
Testamento”), chegando até os versículos finais de Ezequiel, ocasião em que foi
sobrepujado por agudo esgotamento físico, vindo a faleceu em 6 de agosto de
1691, aos 63 anos.
Almeida empregou milhares
de vezes o nome divino na forma JEHOVAH.
Trecho de Gênesis, cap. 2, na versão Almeida de 1860.
Tendo em vista o rápido
relance histórico apresentado acima sobre a atividade de Almeida, as palavras
da revista Despertai!, transcritas no
prefácio deste artigo a respeito dele, são deveras meritórias.
Atualmente, todo o ramo
protestante (hoje conhecido como evangélicos) de língua portuguesa abraçou a
tradução de Almeida como versão usual da Palavra de Deus.
Por que as críticas à tradução de Almeida?
Tendo em vista o apreço das
Testemunhas de Jeová pela obra textual de Almeida, por que elas lançam críticas
à tradução dele? Por exemplo, este site diversas
vezes destacou aspectos negativos da Tradução de João Ferreira de Almeida.
Primeiramente, é necessário
asseverar que há uma diferença entre a tradução feita originalmente por Almeida
e as traduções que são feitas em nome dele pelas sociedades bíblicas que detêm
os direitos autorais de sua tradução.
Não temos motivos para
duvidar de que Almeida fez tudo o que pôde para produzir uma tradução fiel da
Palavra de Deus dentro das circunstancias em que vivia. Embora tenha usado o
Texto Recebido, que foi o resultado de uma produção comercial feita às pressas
tendo por base poucos manuscritos bíblicos e que não eram os melhores, Almeida
se empenhou em dar o seu melhor no laborioso trabalho de traduzir a Palavra de
Deus.
O problema é que as
sociedades bíblicas que publicam traduções que levam o nome de João Ferreira de
Almeida cometeram duas falhas graves – uma por omissão e outra por ação.
Primeiro, deixaram de revisar tal Tradução valendo-se dos manuscritos
descobertos após o tempo de Almeida, bem como do progressivo conhecimento das
línguas nas quais a Bíblia foi originalmente escrita. As revisões que fizeram,
dando à Tradução de Almeida o nome de Revista e Corrigida, Revista e Atualizada no Brasil
e Corrigida e Revisada Fiel, infelizmente não melhoraram de modo significativo a
erudição da Tradução de Almeida e nem mesmo fizeram uma significativa
atualização da língua portuguesa.
Mas o pior foi a ação, por parte
da Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualizada no Brasil, que
removeu por completo o nome divino de sua versão. A versão Almeida da Editora
Vida Nova, presbiteriana, deixou o nome em Deuteronômio 3:24, único local em que
pude comprovar a sua existência nessa tradução. Porém, na tradução Almeida século 21 da Vida Nova, essa
passagem coloca o título SENHOR (tudo em maiúsculo) e, até onde pude verificar, o nome divino somente aparece incorporado nas expressões “Jeová-Jiré” (Gênesis 22:14) e “Jeová-Nissi” (Êxodo 17:15).[1]
Bíblia Almeida Vida Nova
Ademais, a Tradução de João
Ferreira de Almeida Revista e Atualizada no Brasil procurou remover todas as
evidências bíblicas que provam que a alma (hebraico néfesh e grego psiqué) se
refere a um ser vivo material, e não
espiritual. Em tais passagens, tal tradução não usou a palavra “alma”, mas sim
“ser vivente” ou outra denominação semelhante. Embora traduzir néfesh por “ser vivente” não seja
biblicamente errado, visto que “ser vivente” é um significado básico de néfesh, o problema é que, se a referida versão
da Bíblia não explicar numa nota de rodapé que a palavra é néfesh, a mesma traduzida por “alma”, o leitor leigo não saberá que
“alma” é um ser vivo material, e continuará enganado pela ideia distorcida que
recebeu desde a infância de que alma é um ser espiritual desencarnado.
Bíblia Almeida Revista e Atualizada
Mas, pelo que parece ter ocorrido
por descuido, a comissão da Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e
Atualizada no Brasil deixou escapar um versículo que prova que alma é um ser
material: Levítico 11:46.
Também, uma versão dessa tradução
de Almeida possui nas páginas iniciais uma explicação reconhecendo a existência
do nome divino:
A versão Almeida da Imprensa Bíblica Brasileira, batista, melhorou a
erudição da tradução de Almeida por colocar os versículos espúrios entre
colchetes e explicar em nota de rodapé que se trata de um versículo que não se
encontra nos melhores textos, conforme exemplificado pelos exemplos abaixo:
Embora use o nome divino, Jeová, em diversas
passagens, coloca uma lamentável nota sobre o Nome em Gênesis 2:4, que reza:
Os nomes registrados na Bíblia sofrem ação da transliteração com adaptação fonética para os idiomas em que a
Bíblia é traduzida, a fim de permitir sua pronúncia em tais línguas. Além
disso, “Jeová” é nome próprio, não aplicado na Bíblia a ninguém mais do que ao
Deus Todo-Poderoso, ao passo que “Senhor” é substantivo comum, e aplicado a
vários outros personagens bíblicos.
Portanto, todas as justificadas
críticas dirigidas às traduções que levam o nome de João Ferreira de Almeida
não são dirigidas à pessoa dele, nem ao seu esforço sincero, dentro de suas
possibilidades, para traduzir a Palavra de Deus. São críticas justificadas
dirigidas aos que deixaram de melhorar a tradução dele e, ao invés disso, ainda
a pioraram, por remover dela o nome divino e as alusões que Almeida fez sobre o
que a alma realmente é.
Nota:
[1] Disponível em://vidanova.com.br/editora/
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo da Bíblia Sagrada, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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artigos deste site podem ser citados
ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
As Almeidas são insuportáveis de ler o Pentateuco. São bem cansativas na hora de ler o Novo Testamento, exceto a Século 21.
Minha opinião.
Apologista.... Em Jeremias 18:20 fica a pergunta. A Alma (segundo a Almeida Atualizada) pode ser enterrada? Sim.... Então é um ser material.
Muito obrigado!
As informações da Tradução de João Ferreira de Almeida Revista e Atualiza sobre o nome divino me ajudaram muito numa revisita.