Fonte da ilustração:
https://www.jw.org/en/bible-teachings/questions/pray-in-jesus-name/
Monogenés – único de uma espécie?
Harris
demonstra que a definição de monogenés como
“único de uma espécie” atenta contra a própria doutrina da Trindade:
Mas, porque há
apenas “uma substância” na Santíssima Trindade, monogenés não poderia ser usado para uma
pessoa se isso significasse um de um tipo [espécie]. Ele nunca poderia ser
usado para uma pessoa, o que seria destruir a unidade da substância – homoousios, e faria as outras [duas]
pessoas ser de um tipo ou substância – homoiousios
– diferente. – p. 27.
Monogenés apóia a teoria da geração eterna?
Após
demonstrar pela lógica inquestionável a incoerência da tradução “Deus único”, e
da interpretação de monogenés como
“único de uma espécie” no caso de João 1:18, e que, portanto, a tradução
adequada seria “Deus unigênito” (Deus gerado, ou nascido), Harris sustenta sua
crença trinitária por afirmar que tal geração é eterna:
No entanto, monogenés, significando “unigênito”, pode e é usado para “uma” das Três Pessoas – o Filho, por
enquanto; o Pai é um não gerado e é Deus, e o Espírito Santo … é Deus; o Filho
é, na verdade, unigênito e é Deus. Todos os três são Deus, não três Deuses, ou
seja, três Seres Divinos, há apenas um ser divino, mas três que são chamados de
Deus, porque eles todos possuem a uma única e mesma substância – um Ser Divino
em quem subsiste Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo. O Pai sendo de
nenhum, portanto, não-gerado; o Filho sendo gerado eternamente do Pai, assim, unigênito; e o Espírito Santo
procede do Pai através do Filho. – p. 27. (Grifo acrescentado.)
Seu
conceito está de acordo com a bem conhecida Confissão de Fé Batista, citada por
Harris em seu livro:
“Neste Ser Divino e infinito há três pessoas (I João
v.7; Mateus xxviii, 19; II Cor. X111. 14) o Pai, a Palavra (ou Filho), e o
Espírito Espírito, de uma só substância, poder e eternidade, cada um
constituindo todo o Divino. (Êx iii 14; João xiv 11; I Cor viii 6)
Essencialmente, no entanto, a essência
indivisa: o Pai não é de ninguém, nem gerado, nem procedente; o Filho é (João
I. 14,18) eternamente gerado do Pai; o Espírito Santo (João xv 26;.. Gal Iv. 6)
que procede do Pai e do Filho; tudo infinito, sem começo, portanto, um só Deus.” 241 (The Philadelphia Confession of Faith (Associated Publishers and
Authors, Inc. Grand Rapids, MI)
Ou seja,
admite-se que o Filho é Deus unigênito (Deus gerado), mas, contraditoriamente,
não se admite que ele teve princípio. Para sustentar essa disparidade, fala-se
dele como sendo “eternamente gerado do Pai”.
Mas, onde
reside a base BÍBLICA para sustentar essa teoria da geração eterna?
Harris faz
alusão a uma passagem bíblica:
Os demônios,
em Marcos 5:7, especificamente o chamaram de o “Filho do Deus Altíssimo”.
Lembre-se, uma das primeiras regras de hermenêutica é seguir a planície e o
sentido literal do texto, a menos que o contexto indique o contrário. Eles
sabiam quem era Jesus. O sentido claro significa que ele era o “Filho”, em seu estado normal, ou seja, do Deus Altíssimo. Ele era o
Filho eterno de Deus pela eterna geração. Todos compreendiam a linguagem normal
que significa que ele veio de Deus. Ele foi gerado por Deus. Até os demônios
sabiam disso. Eles sabiam que ele era Deus, pois ele era eternamente “de”
Deus. – p. 191.
Com toda a
sinceridade, caro leitor, acha mesmo que essa passagem prova a suposta geração
eterna do Filho? É certo que os demônios sabiam que Jesus era Filho de Deus;
eles até fizeram alusão a isso. Mas, afirmar a partir daí que os demônios
achavam que era gerado eternamente por Deus e que era o próprio Deus é fugir
drasticamente da mesma hermenêutica em que Harris julga se basear.
Seria esse
o texto mais forte que os trinitaristas teriam para tentar sustentar a geração
eterna?
Curiosamente,
na página 149 de sua obra, Harris cita Provérbios capítulo 8 na versão Septuaginta conforme a versão inglesa de
Brenton, onde lemos:
πρὸ τοῦ ὄρη ἑδρασθῆναι πρὸ δὲ πάντων
βουνῶν γεννᾷ με.
“Antes que os montes fossem
firmados, e antes de todas as colinas, ele me gera.” – Provérbios 8:25.
O que
Harris desconsidera é que o contexto de Provérbios capítulo 8 diz respeito
exatamente à geração do Filho dentro do fator tempo!
22 Κύριος ἔκτισέ με ἀρχὴν ὁδῶν αὐτοῦ εἰς ἔργα αὐτοῦ, 23 πρὸ τοῦ αἰῶνος ἐθεμελίωσέ με ἐν ἀρχῇ, πρὸ τοῦ τὴν γῆν ποιῆσαι
“Jeová me produziu [“criou”, IBB] como o princípio do seu caminho, a primeira das suas
realizações mais antigas. Fui estabelecida nos tempos antigos, no começo, antes de existir a terra.” – Provérbios 8:22, 23.
Neotrinitários não aderem à geração eterna
Outro fator
curioso é que não há consenso entre os trinitaristas sobre a teoria da geração
eterna do Filho. Harris comenta sobre isso:
A razão é
porque a etimologia de monogenés não
é o problema real. A verdadeira razão é que eles [os neotrinitários] rejeitam a
doutrina da geração eterna, e eles estão tentando desacreditar a doutrina,
alterando o significado de monogenés.
Como foi mencionado no início deste artigo, há ampla evidência de que monogenés deve ser traduzido como “unigênito”. Mas, mesmo, se for concedido o seu ponto de vista [dos
neotrinitários], de que ele não deve ser traduzido dessa forma, eles ainda não
estão traduzindo a palavra no seu significado majoritário.
A situação
trinitária é extremamente embaraçosa: Se ela adere à teoria da geração eterna,
colide frontalmente com claros textos bíblicos como Provérbios capítulo 8. Se a
rejeita, rejeita também a suposta coigualdade do Filho em relação ao Pai na
questão da eternidade. Em linguagem coloquial, isso poderia ser descrito assim:
se correr o bicho pega, se ficar o bicho come!
O artigo
seguinte abordará o tema:
Genes – derivado de genos
ou de gennáo?
A menos que haja uma
indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo da Bíblia
Sagrada.
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fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
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