O texto abaixo é de um
debate ocorrido entre mim e uma pessoa trinitarista. Ele será referido pela
palavra “questionador”. Será útil para todos os estudantes da Bíblia, independentemente
de sua posição doutrinária.
Questionador:
A palavra “espírito” pode
significar pessoa, e o substantivo “santo”, em 89% das vezes se aplica a seres
pessoais. Assim, a comparação do artigo de vocês é errônea.
O Apologista da Verdade:
Primeiro, o fato de a
palavra “espírito” poder se referir a uma pessoa não significa que o “espírito
santo” seja uma pessoa. Afinal, a palavra “espírito” também é aplicada a coisas
impessoais.
Segundo, o fato de na
maioria dos casos o adjetivo “santo” aludir a seres pessoais também não
significa que o “espírito santo” seja uma pessoa, pois o mesmo adjetivo é
aplicado dezenas de vezes apenas no “Novo Testamento” a coisas impessoais.
Terceiro, o argumento de
que “a nuvem guia, mas nunca é pessoa” e “as Escrituras dizem e ensinam, mas
nunca são pessoas” também pode – e deve – ser aplicado ao espírito santo, o
qual guia, ensina, fala, etc., mas nunca foi e nem é uma pessoa.
Veja neste site os
artigos “É a Trindade uma doutrina bíblica?”, “A Trindade é ensinada no ‘Novo Testamento’?”, “Personificação prova personalidade?” e “Mateus 28:19 apoia a Trindade?”.
Questionador:
Você está equivocado,
colega. Você disse que o Espírito Santo não pode ser um ser pessoal porque os
verbos que Ele pratica são praticados por outros substantivos que não são pessoais.
Isso é incorreto. Você comparou “Espírito” que muitas vezes pode ser pessoa e “santo”
que na grande maioria pode se referir a pessoa (e Espírito Santo então!!!!) com
substantivos que jamais podem ser pessoais. Em outras palavras, embora
respeitando seus pontos de vista, não darei crença a eles.
O Apologista da Verdade:
Mas é justamente nisso que
reside a força do argumento. O fato de a Bíblia atribuir ações pessoais a
coisas que nunca foram pessoas mostra que o fato de ela usar as mesmas ações
para o espírito santo não é prova de que ele seja uma pessoa. Portanto, a
personificação do espírito santo não prova personalidade. Seria necessário algo
mais para provar que ele é uma pessoa, como, por exemplo, um nome próprio
pessoal, visto que a expressão “espírito santo” é um termo descritivo. No
entanto, esse algo mais não existe nas Escrituras.
Somado a esse fato de que
o espírito santo não tem identidade pessoal, existe o fato de que a palavra “espírito”
na Bíblia (rúahh no Velho Testamento e pneúma no
Novo) ocorre mais
de 200 vezes para coisas impessoais e apenas umas 70 vezes para pessoas. Assim, diante do uso preponderante de “espírito” para
seres impessoais, o espírito santo teria de ter uma identidade pessoal, assim
como o Pai e o Filho têm. Mas isso não ocorre com o espírito santo. Essa
esmagadora evidência revela que ele não é uma pessoa, e sim a energia, ou
força, procedente de Deus.
Questionador:
Você partiu do pressuposto
de que o Espírito Santo é impessoal. Também, de onde você tirou que Espirito
Santo é termo descritivo? Onde a Bíblia ensina isso? Como não tem identidade
pessoal se tem vontade própria, sentimentos e pratica diversas ações comuns a
pessoas? E usar o Velho Testamento para provar a identidade do Espírito Santo à
base da palavra “Espírito” (ruahh) antes mesmo da obra do Espírito Santo ser
revelada nas Escrituras no Novo Testamento é errôneo de sua parte.
Além disso, Deus, na
Bíblia, chama este ser de Espírito Santo. É assim que fomos ensinados a
identificá-lo. E você não tem a menor prova para dizer que não é assim.
Agora pense nisso: Se os
montes ouvem, são as pessoas que estão nos montes que ouvem. Se a nuvem guia, é
Deus que providencia a nuvem para guiar. Se o sangue testemunha, alguém
entregou o sangue para servir de testemunha. Se os céus declaram a glória de
Deus, e as árvores louvam a Deus, são meios que Deus criou para ele ser
louvado. Se as Escrituras ensinam, é Deus que a proveu e homens quem a
escreveram. Ou seja, Deus ou pessoas são representados aqui, na maioria de seus
exemplos, por coisas literais, mas a expressão é simbólica.
Já sei o que você está
pensando: “Se o Espírito Santo diz, ensina, ouve, fala, então é Deus dizendo
através de sua força ativa.” Não! O texto de João 16:13, 14 mostra claramente o
papel de submissão (e isso não prova inferioridade em natureza, senão a mulher
seria inferior ao marido em natureza também) do Espírito Santo a Jesus, que é
enviado por Jesus, da parte do Pai. Esse Espírito não fala de si mesmo, mas o
que tiver ouvido. O mesmo ser aqui ouve, diz, ensina, guia. Você não vê nenhum
substantivo impessoal na Bíblia fazer tantas ações pessoais.
Para terminar meu
comentário, prezado amigo, acho insuportável sua explicação: “O fato de a
Bíblia atribuir ações pessoais a coisas que nunca foram pessoas mostra que o
fato de ela usar as mesmas ações para o espírito santo não é prova de que ele
seja uma pessoa.” Ora, se assim fosse, anjos seriam impessoais, e veja que
muitos deles não são mencionados por nome. Eu poderia, com isso, criar uma
doutrina que “anjos” com nome seriam pessoais, e os sem nome seriam impessoais.
Convido você a repensar as
interpretações que herdou do corpo governante. Eles te convenceram disso.
Todavia, o Espírito Santo convence o homem do pecado. Poder e força de Deus já
existiam, e eram perceptíveis para as pessoas, mas o agir da Pessoa do Espírito
Santo ainda não, por isso foi prometida a sua vinda.
O Apologista da Verdade:
Vamos aos fatos:
1) Eu não parti do
pressuposto que de que o espírito santo é impessoal. A prova disso é que os
artigos a respeito desse tema apresentaram imparcialmente o que a Bíblia diz
sobre o assunto. Também, ao avaliar o uso das palavras “espírito” e “santo”
(com exceção de minha última resposta a você), eu deixei de lado a aplicação
dessas palavras ao espírito santo, visto ser ele o foco da questão.
2) Com relação à expressão
“espírito santo” ser um termo descritivo, temos o fato de que Deus, Jesus e os
anjos são todos ‘espíritos santos’. Assim, para que o espírito santo seja uma
pessoa em adição a todos os espíritos santos pessoais que existem, ele teria de
ter uma identidade pessoal, o que não acontece.
3) Quanto a ser atribuída
vontade própria ao espírito santo, isso não passa de linguagem figurada, pois a
Bíblia também fala do vento como tendo vontade própria. (João 3:8) Como já
explicado vez após vez, personificação não prova personalidade.
4) Quanto a usar o “Velho
Testamento” nessa questão, isso é inteiramente correto, pois essa parte da
Bíblia menciona o espírito santo em diversas atividades. – Salmo 51:11; Isaías
63:10, 11; Gênesis 1:2; Êxodo 31:3; Juízes 3:10; 6:34; 11:29; 14:6, 19; 1 Samuel
10:10; 2 Samuel 23:2; Isaías 61:1; Ezequiel 11:5.
5) Ademais, o grego usado
na Bíblia não usa iniciais maiúsculas para o espírito santo. De fato, não faz
isso nem para Deus. O contexto é que determina se na tradução deve constar
inicial maiúscula ou não. E o contexto bíblico revela o espírito santo como
sendo algo, não alguém. A Nova Enciclopédia
Católica (em inglês) admite: “A maioria dos textos do N[ovo] T[estamento]
revela o espírito de Deus como sendo algo, não alguém.” – 1967, Vol. XIII, p.
575.
6) O motivo de a Bíblia
atribuir várias ações pessoais ao espírito santo reside no fato do uso que
Jeová e que Jesus fazem dele na realização do propósito divino. Quanto ao
número de ações pessoais ao espírito santo em João 14-16, esse não é um bom
argumento, pois mais ações pessoais são atribuídas ao amor, embora ele não seja
pessoa. – 1 Cor. 13:4-7.
7) Com relação ao Pai, ao
Filho e a anjos serem pessoas, isso é evidente porque eles possuem, cada qual,
um nome pessoal e têm corpos espirituais definidos. (Salmo 83:18; 1 Coríntios
15:45; Daniel 12:1; Lucas 1:26; Gênesis 32:29) Por outro lado, o espírito santo
não tem nome pessoal e nem um corpo espiritual definido, uma vez que pode
encher muitas pessoas ao mesmo tempo, pode ser derramado, parcelado, etc. Teria
sentido ficar cheio de uma pessoa? Pode uma pessoa ser derramada, e cair sobre
alguém? (Atos 2:4, 17; 10:44) Os seres espirituais e pessoais que se menciona
como tendo “caído” são Satanás e seus demônios, sendo tal queda um evento
negativo para eles. – Lucas 10:18; Apocalipse 12:7-9.
8) Quanto à interpretação
do espírito santo como algo impessoal procedente de Deus, não é algo
proveniente do corpo governante das Testemunhas de Jeová. Essa verdade já tem
sido defendida há muitos séculos. Afinal, somente em 381 depois de Cristo é que
se atribuiu personalidade ao espírito santo, no Concílio de Constantinopla. O
fato de os tradutores da Septuaginta (c. 200 anos antes de Cristo) terem
traduzido a palavra “espírito” na expressão “espírito de Jeová” (em Isaías
40:13) por “mente”, tendo essa tradução sido citada pelo apóstolo Paulo em
Romanos 11:34 e em 1 Coríntios 2:16, é um forte indicador de que tanto os
judeus, como os cristãos do primeiro século, encaravam o espírito santo como
algo impessoal. Assim sendo, não há o que repensar na questão da impessoalidade
do espírito santo.
Questionador:
Publicarei em breve uma resposta
mais pormenorizada sobre os usos da expressão “Espírito Santo”.
No Antigo Testamento não
temos uma clara identificação sobre quem é o Espírito Santo. Tanto que os
judeus o associavam com o poder de Deus, mas no NT, quando Jesus introduz a obra
do Espírito Santo, e depois os apóstolos esclarecem-no mais ainda, então
podemos ter uma teologia correta sobre Ele. Por isso, os textos do NT são os
melhores para compreendermos a pessoalidade dEle.
O que a Enciclopédia
Católica (que nada tem a ver com a Igreja Católica Romana, inclusive sei de
autores ateus que participaram dela) diz não me serve de autoridade. Não posso
sair da Bíblia.
Sobre as várias ações de “o
amor”, em 1 Coríntios 13:4-7, fica evidente que se trata de personificação,
porque amor nunca é ser pessoal, mas Espírito é, e muitas vezes. Novamente,
comparação errônea.
Sobre ser derramado, cair,
e ficar cheio, quando se refere ao Espírito Santo, eu posso sim ficar cheio
dEle, pois Ele é Espírito. Então ele me enche de seu poder. Ele cai sobre mim
pois “cair” na literatura grega é usado simbolicamente para descrever uma ação
repentina de alguém sobre outra pessoa. Lembro-me de um filólogo explicar-nos
que a expressão “ele vive caindo em cima de mim”, “ou dando em cima de mim” tem
origens no grego. Sobre ser parcelado, O Espírito Santo é onipresente, e pode
ser distribuído, na acepção de Ele não agir apenas numa pessoa. Isso é mera
figura de linguagem, e necessariamente a figura de linguagem não anula a
personalidade dos substantivos nela envolvidos. Por isso, quando Paulo fala
sobre ser derramado, ele não deixa de ser pessoa.
Sobre o Espírito Santo não
ter nome, você que está dizendo isso. Ele é santo, e isso é um atributo moral.
Como Espírito, diferentemente de lei e de sábado (que nunca são pessoas) pode
ser pessoa, então Espírito Santo é uma pessoa. Não existe vento santo, força
santa. Você também é quem diz que o Espírito Santo não tem corpo definido. É um
pressuposto teu.
O Apologista da Verdade:
Partindo de sua afirmação de que o
Antigo Testamento não esclarece sobre o espírito santo e que, portanto, os
judeus não o conheciam plenamente, ou até, como você alega, eles o entendiam de
forma errada, e partindo da alegação de que Deus é uma Trindade – Pai, Filho e
Espírito Santo em um só Deus, isso significaria que os judeus não conheciam a
Deus (pois não conheciam uma parte de Deus). Contudo, isso entraria em conflito
com o que Jesus disse sobre os judeus: “Nós [os judeus] adoramos O QUE
CONHECEMOS, porque a salvação se origina dos judeus.” (João 4:22) Veja o
subtítulo “Os ‘desprivilegiados’ judeus”,
no artigo “É a Trindade uma doutrina bíblica?”.
Você não tem dificuldade
de entender a personificação de coisas obviamente impessoais, mas tem
dificuldade de entender a personificação do espírito santo por já ter um
conceito preconcebido sobre ele.
Você citou literatura
grega, mas nenhum texto bíblico para refutar a questão de o espírito santo “cair”
sobre pessoas.
Não sou eu quem diz que o
espírito santo não tem nome. A Bíblia indica claramente que seres espirituais
(Deus, Jesus e os anjos) têm todos nomes, mas ela não menciona que o espírito
santo tenha nome. E ele precisaria ter, para distingui-lo dos espíritos santos
pessoais que existem.
Que os seres espirituais
têm corpo espiritual definido, fica claro de 1 Coríntios 15:44. Assim sendo,
estão num lugar específico por vez. Para ilustrar, um anjo não pode estar ao
mesmo tempo em toda parte. Daniel cap. 10 mostra isso: um anjo enviado para dar
informações a Daniel foi barrado por um demônio e demorou 21 dias para chegar
até Daniel. (Daniel 10:13) Mas temos provas de que o espírito santo não tem
corpo definido. Atos 2:4 afirma: “E todos eles ficaram CHEIOS de espírito
santo.” Havia cerca de 120 pessoas ali (Atos 1:15), e todas ficaram ao mesmo
tempo cheias de espirito santo. Isso não é uma figura de linguagem, visto que
descreve algo que aconteceu real e literalmente. Um anjo não pode ser dividido
entre 120 pessoas ao mesmo tempo; só uma força poderia. Para exemplificar: se
120 pessoas ficassem de mãos dadas e uma delas pegasse num fio elétrico
desencapado, o que aconteceria? A eletricidade iria envolver todas elas. Isso
ilustra a diferença entre uma pessoa espiritual e uma força espiritual.
Não se pode afirmar que
não existe vento santo ou força santa. Tudo o que vem de Deus é santo. A força
que emana dele evidentemente é santa. Apenas a Bíblia não usa tais expressões
em relação a tais PALAVRAS. Por outro lado, a Bíblia mostra que o espírito
santo é a força ativa de Deus, força essa que é santa.
Juízes 14:6 declara: “O
Espírito do Senhor apossou-se de Sansão, e ele, sem nada nas mãos, rasgou o
leão como se fosse um cabrito.” Será que devemos entender disso que Sansão foi
possuído por um ser espiritual? Os casos de possessão relatados na Bíblia estão
relacionados com seres espirituais maus. É óbvio que uma força espiritual
envolveu Sansão, dando-lhe condições de fazer algo que seria humanamente
impossível.
O nosso conceito sobre o
espírito santo, que acreditamos ser o conceito bíblico, não desmerece em nada o
espírito santo nem é uma negação das múltiplas atividades que ele realiza.
Aceitamos a operação do espírito em nossa vida, incluindo o desenvolvimento dos
“frutos do espírito”. (Gálatas 5:22, 23) O entendimento do que realmente é o
espírito santo nos ajuda a compreender como Jeová Deus e Jesus Cristo utilizam
essa poderosa força para realizar o propósito divino.
Por outro lado,
respeitamos o direito que as pessoas têm de pensar de modo diferente.
[Após esta última
argumentação de minha parte, o referido “questionador” não escreveu mais.]
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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