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Os “Dez Mandamentos” com seu sábado semanal devem ser guardados pelos cristãos? – Parte 3

Fonte da ilustração:
http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/1101978089

O que é feito pelo “dedo de Deus” tem de ser eterno?

Essa é outra pretensão dos que defendem a permanência do Decálogo – o fato de este ter sido escrito pelo “dedo de Deus”. (Êxodo 31:18) Mas seria isso uma evidência da suposta eternidade do Decálogo?

A terceira praga que Jeová desferiu contra o Egito – a praga de borrachudos (“piolhos”, Als; “mosquitos”, CBCSo) – não pôde ser imitada pelos sacerdotes-magos de Faraó, e estes chegaram a admitir: “É o dedo de Deus!” (Êxodo 8:19) No entanto, essa praga não permaneceu para sempre. Ela findou, assim que cumpriu seu objetivo. Portanto, nem tudo o que é feito pelo “dedo de Deus” tem, necessariamente, permanência eterna.

O “dedo de Deus” é, na realidade, Seu espírito santo, a força que emana de Jeová e que Ele usa para realizar Sua vontade. (Compare Mateus 12:28 com Lucas 11:20.) Mas, nem tudo o que é realizado por meio do espírito de Deus é eterno. Por exemplo, os dons do espírito, que Jeová proveu à primitiva congregação cristã no primeiro século para provar que esse grupo era a partir de então o Seu arranjo de aproximação a Ele, por fim cessaram por volta daquela mesma época, tendo cumprido o seu propósito. – 1 Coríntios 13:8-13.[1]

Por conseguinte, o argumento dos proponentes da continuidade do Decálogo para os cristãos à base de esse ter sido escrito pelo “dedo de Deus” não tem respaldo nas Escrituras.

Escrito em pedras versus escrito num livro

Essa é outra diferenciação feita pelos que afirmam a perpetuidade do Decálogo: que este foi escrito em pedras ao passo que as demais leis foram escritas num livro. Afirmam, ademais, que “pedras” são um símbolo de eternidade. Mas o que a Bíblia tem a nos dizer sobre isso?

Isaías 60:17: “Em lugar de cobre trarei ouro, e em lugar de ferro trarei prata, e em lugar de madeira, cobre, e em lugar de pedras, ferro; e eu vou designar a paz como teus superintendentes e a justiça como teus feitores.”

O texto acima profetiza a melhora organizacional dentro do povo de Deus. Se pedras fossem um símbolo de eternidade, ficaria incoerente serem substituídas por ferro, sendo consideradas inferiores a esse material. O máximo que podemos inferir das Escrituras é que “pedras” simbolizam apropriadamente dureza e durabilidade, como diz Ezequiel 3:9a: “Igual ao diamante, mais dura do que a pederneira [pedra muito dura] fiz a tua testa.” Mas isso não é evidência de eternidade. O exemplo abaixo é definitivo em mostrar isso:

Em Daniel 2:34, 44 e 45, o Reino messiânico nas mãos de Cristo foi comparado a uma “pedra” que destrói todos os governos humanos. No entanto, essa figurativa “pedra” não é eterna. A Bíblia diz: “A seguir, o fim, quando ele [Cristo] entregar o reino ao seu Deus e Pai, tendo reduzido a nada todo governo, e toda autoridade e poder. Pois ele [Cristo] tem de reinar até que Deus lhe tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. Como último inimigo, a morte há de ser reduzida a nada. Pois Deus ‘lhe sujeitou todas as coisas debaixo dos pés’. Mas, quando diz que ‘todas as coisas foram sujeitas’, é evidente que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. Mas, quando todas as coisas lhe tiverem sido sujeitas, então o próprio Filho também se sujeitará Àquele que lhe sujeitou todas as coisas, para que Deus seja todas as coisas para com todos.” (1 Coríntios 15:24-28) Portanto, assim que cumprir seu objetivo, o Reino messiânico será ‘entregue’ (devolvido) a Jeová Deus, o produtor desse Reino. Não haverá mais necessidade desse governo subsidiário entre Jeová Deus e a humanidade.

No que diz respeito ao Decálogo, ter sido escrito originalmente em pedras não assegura a sua continuidade. Ao invés disso, a Palavra de Deus mostra que algo superior ao Decálogo é que vigora para os cristãos.

2 Coríntios 3:3 declara: “Porque vós sois demonstrados ser carta de Cristo, escrita por nós, como ministros, inscrita, não com tinta, mas com espírito dum Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas carnais, nos corações.”

O versículo acima mostra que o que é escrito “em tábuas carnais, nos corações” é superior ao que foi escrito em “tábuas de pedra”, isto é, o Decálogo. O que o apóstolo Paulo queria dizer com isso? Leia atentamente os versículos 7 e 8:

“Além disso, se o código que administra a morte e que foi gravado com letras em pedras veio a existir em glória, de modo que os filhos de Israel não podiam fitar atentamente os olhos no rosto de Moisés, por causa da glória do seu rosto, glória que havia de ser eliminada, por que não deve a administração do espírito ser com muito mais glória?” Aqui, Paulo contrasta a glória do Decálogo com a gloria do novo pacto (“administração do espírito”), cuja glória é superior.

Mostrando então a consequência de tudo isso, Paulo afirma: “Pois, se aquilo que havia de ser eliminado foi introduzido com glória, muito mais glória teria aquilo que permanece.” (2 Coríntios 3:11) Torna-se claro que o Decálogo não continuaria a vigorar.[2]

O “livro da lei” continha o Decálogo?

Josué 24:26a, ACRF: “E Josué escreveu estas palavras no livro da lei de Deus.”

2 Crônicas 17:9, ALA: “Ensinaram em Judá, tendo consigo o Livro da Lei do SENHOR [Jeová]; percorriam todas as cidades de Judá e ensinavam ao povo.”

Neemias 8:8, Al: “E leram o livro, na Lei de Deus, e declarando e explicando o sentido, faziam que, lendo, se entendesse.”

Como vimos, o livro continha a “Lei do SENHOR” – a “Lei de Deus”. Portanto, não há distinção entre as leis contidas em tal livro e o Decálogo. Tudo era lei de Deus. Mas, será que o livro continha também o Decálogo?

2 Reis 23:2, 3, IBB: “Subiu o rei à casa do Senhor, e com ele todos os homens de Judá, todos os habitantes de Jerusalém, os sacerdotes, os profetas, e todo o povo, desde o menor até o maior; e leu aos ouvidos deles todas as palavras do livro do pacto, que fora encontrado na casa do Senhor. Então o rei, pondo-se em pé junto à coluna, fez um pacto perante o Senhor, de andar com o Senhor, e guardar os seus mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, de todo o coração e de toda a alma, confirmando as palavras deste pacto, que estavam escritas naquele livro; e todo o povo esteve por este pacto.” 

Observe a expressão “livro do pacto”. O pacto da Lei dada a Israel incluía todo o conjunto de leis, em especial o Decálogo. Deuteronômio 9:11 declara: “Sucedeu, pois, que ao fim dos quarenta dias e quarenta noites, o Senhor me deu as duas tábuas de pedra, as tábuas do pacto.” Também, lemos em Deuteronômio 4:13: “E ele passou a declarar-vos seu pacto que vos mandou cumprir — as Dez Palavras [“os dez mandamentos”, Als], escrevendo-as depois em duas tábuas de pedra.”

Assim sendo, há base para se concluir que o Decálogo também foi registrado em tal livro. Podemos analisar isso no relato bíblico que descreve as circunstâncias em que Jeová deu o Decálogo e as demais leis.

Êxodo, capítulo 20, descreve a provisão do Decálogo. Os capítulos 21 a 23 descrevem a provisão de leis adicionais. Após isso, lemos em Êxodo 24:3: “Veio, pois, Moisés e relatou ao povo todas as palavras do Senhor e todos os estatutos; então todo o povo respondeu a uma voz: Tudo o que o Senhor tem falado faremos.” (IBB) “Todas as palavras do Senhor” e ‘tudo o que o Senhor tinha falado’ incluíam tanto o Decálogo como as leis adicionais. Note agora o que aconteceu a seguir: “Então Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. Também tomou o livro do pacto e o leu perante o povo; e o povo disse: Tudo o que o Senhor tem falado faremos, e obedeceremos.” (Êxodo 24:4, 7, IBB) Assim, ao que tudo indica, o Decálogo foi escrito no livro.

Tudo isso aponta para o fato de que a distinção entre o Decálogo e as demais leis, feita à base de o primeiro ter sido escrito em tábuas de pedra e o segundo, em um livro, não tem base bíblica. É mais um sofisma (argumento falso) na tentativa inválida de estabelecer a continuidade do Decálogo.

Na arca do pacto versus fora da arca

Esse é outro detalhe apontado pelos proponentes da continuidade da guarda do Decálogo: este foi colocado dentro da arca do pacto ao passo que o livro da lei foi colocado fora (ao lado) dela.

Deuteronômio 10:2, ACRF: “E naquelas tábuas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste, e as porás na arca.”

Deuteronômio 31:26, IBB: “Tomai este livro da lei, e ponde-o ao lado da arca do pacto do Senhor vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra vós.” 

Bem, apenas o fato de o livro da Lei ser também “Lei de Deus” e de conter ademais o Decálogo já elimina a pretensão de que esse detalhe da localização de ambos possa estabelecer alguma distinção entre esses. Na verdade, a própria Bíblia explica o motivo de o “livro da lei” ter sido colocado fora da “arca”: não por constituir uma lei inferior, mas sim para que ali esteja por testemunha contra” os que voluntariamente se puseram sob a obrigação de obedecer ao inteiro pacto da Lei, mas que posteriormente se rebelassem contra tal Lei. (Deuteronômio 31:26) Ou seja, por estar disponível à leitura, tal “livro” servia de “testemunha”, impedindo qualquer tentativa de justificar o não cumprimento da Lei por uma alegação de ignorância em relação a ela. Os levitas foram orientados por Deus a ensinar a inteira Lei ao povo. (Deuteronômio 31:11; 33:8, 10; 2 Crônicas 17:9) Além disso, os reis da nação israelita teriam de escrever uma cópia da inteira Lei e lê-la “todos os dias da sua vida”. (Deuteronômio 17:18-20) Tudo isso tornava o livro da Lei uma “testemunha” contra todos os que violassem o pacto da Lei.

Portanto, a localização quer das tábuas de pedra quer do livro da Lei não tem nada a ver com a permanência quer do Decálogo quer das demais leis.

Assim, estes três primeiros artigos do tema acima mostraram que o conjunto de conceitos (apresentado no início do primeiro artigo), separando a Lei dada a Israel em duas partes – o Decálogo e as demais leis – com o intuito de promover a perpetuidade da primeira, não tem base bíblica.

A continuação desta série de artigos continuará dando atenção ao que a Bíblia realmente ensina sobre os chamados “Dez Mandamentos” com seu sábado semanal.


Abreviações das traduções usadas:
 ACRF: Almeida Corrigida e Revisada Fiel.
Al: Versão de João Ferreira de Almeida, Revista e Corrigida.
ALA: Almeida Atualizada no Brasil.
Als – Almeida Revista e Corrigida, Almeida Atualizada e Almeida da Imprensa Bíblica do Brasil
CBCCentro Bíblico Católico
IBB: Almeida da Imprensa Bíblica do Brasil.
SoMatos Soares


Notas:
[1] Para um estudo sobre o tema dos dons do espírito e de sua cessação, veja o artigo “Pentecostalismo ou espiritismo?”, neste site.

[2] Para uma consideração cabal de 2 Coríntios, capítulo 3, veja o artigo “Os Dez Mandamentos foram abolidos? – Um exame de 2 Coríntios 3:6-14”, neste site.



A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pelas Testemunhas de Jeová.




Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org




Comentários

Saga disse…
As argumentações dessa série vem de fontes Adventistas do Sétimo Dia?
Saga disse…
Notemos o seguinte detalhe:
Igreja Batista: http://pt.wikipedia.org/wiki/Conven%C3%A7%C3%A3o_Batista_Brasileira

Igreja Adventista:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Adventista_do_S%C3%A9timo_Dia#Cren.C3.A7as
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cren%C3%A7as_da_Igreja_Adventista_do_S%C3%A9timo_Dia

Igreja Católica:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Igreja_Cat%C3%B3lica_Romana#Doutrina
http://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_da_Igreja_Cat%C3%B3lica

http://pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_de_Verdades_Fundamentais_das_Assembl%C3%A9ias_de_Deus#O_.C3.9Anico_Deus_Verdadeiro

Enfim, a descrição das doutrinas, ensinos, práticas e caraterísticas das igrejas não falam de "Jeová" ou "Javé" nem mesmo na parte que fala em "Deus" ou explica quem ele é. Embora a ADD acima tenha citado "Eu Sou".

Minha observação é essa, o nome de Deus (seja na pronuncia que quiserem) é totalmente ignorado na própria apresentação eclesiástica de sua doutrina e teologia.

Mas imagina alguma TCJ falando de sua doutrina sem falar sobre o nome de Jeová? Ou uma descrição da religião TCJ que não fale do nome Jeová em algum momento?

http://mundoestranho.abril.com.br/materia/qual-e-a-diferenca-entre-protestantes-e-evangelicos

Aqui diz: "TESTEMUNHAS DE JEOVÁ Não crêem na divindade de Jesus Cristo e nem na Santíssima Trindade. Afirmam adorar exclusivamente a Jeová (Deus)"

Porque o jornalista da revista secular acima PRECISOU, NECESSITOU, foi induzido, forçado ou obrigado a IDENTIFICAR ou "TRADUZIR" ou EXPLICAR que Jeová é Deus? Porque teve de dizer que "Jeová" significa "Deus" ? Será que porque as pessoas em geral podem não saber quem ou que significa "Jeová"? Será que é pra deixar claro que não é outra pessoa ou entidade diferente de "Deus"? O Brasil não é o país mais religiosos e mais cristão do mundo? Porque não sabe disso, enquanto aprendeu muitos outros termos como Inferno, Trindade, Nossa Senhora e Lúcifer?? Isso não se fez necessário porque as Igrejas da Cristandade falharam em explicar isso as massas das pessoas?

As grandes igrejas acham o nome de Deus de pouca importância mas tão pouca que dificilmente você esbarra com ele por suas fontes a não ser por exemplo: ....... que estejam falando mal das TJs.....ou que esteja indo a fundo em determinado assunto biblico/teologico/histórico que induza a se fazer uma menção ao Nome [principalmente no AT], então é tipo uma trívia ou curiosidade. No discurso a favor da Trindade ele pode ser usado a favor da Deidade de Cristo, ao se dizer que "SENHOR" ou "Eu Sou" aplicados a Jesus são nomes de Deus ou sinônimos/substitutos de Jeová/Javé/Yahweh!!!! E é só pra isso que fazem uso. Tentar identificar o Senhor (Adonay?) Jesus (Jeová é salvação), o "Grande Eu Sou" com "Jeová".

Dificilmente também existe uma preocupação com o uso do Nome em suas traduções da Bíblia, não se incomodam em nada em por exemplo na ACF não se ter Jeová/Jah nenhuma única vez (A Almeida original tinha!!) no AT. E a TNM só é xingada, e não elogiam a iniciativa dela de usar o Nome no AT. Há quem foque ataque na PRONUNCIA Jeová e no seu uso no NT, mas também hipocritamente não milita pelo uso de Javé/Yahweh nas biblias populares no próprio AT (Veja o caso da NVI)..
A argumentação dessa série de artigos tem por base a ideologia de segmentos sabatistas, tais como os Adventistas do Sétimo Dia e os Adventistas da Promessa e os da Reforma.

Saga, eu deixei um comentário para você no artigo "Nota aos leitores deste blog" (http://oapologistadaverdade.blogspot.com.br/2013/01/nota-aos-leitores-deste-blog.html#comment-form)
Peço que me envie resposta. Se você puder, me envie por e-mal o seu endereço de e-mal. Obrigado. Abraços.
Saga disse…
Pra que email eu mando?
Para o e-mail que se encontra no fim de cada artigo:
oapologistadaverdade@gmail.com
Anônimo disse…
Muito esclarecedor! Parabéns apologista. Fiquei sabendo desses argumentos adventistas através do seu blog. O embasamento bíblico do argumento contra a guarda do sétimo dia é formidável. Estou acompanhando essa série de artigos e estou me deliciando com o desmantelamento dos argumentos a favor da guarda do sétimo dia.
jairo disse…
Muito bom! Vocês tem Facebook?
Sim: O Apologista da Verdade.

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