“E continuaram a ler alto no livro, na
lei do verdadeiro Deus, fornecendo-se esclarecimento e dando-se o sentido dela;
e continuaram a tornar a leitura compreensível.” – NEEMIAS 8:8.
Sem
dúvida alguma, a Bíblia Sagrada é o livro que mais tem influenciado a
humanidade, tendo causado profundo impacto em praticamente todos os segmentos
da sociedade humana, como as leis, as obras de arte e, principalmente, as
regras de conduta e o comportamento. Tudo isso em si já demonstra a importância
de se fazer um exame honesto e imparcial da Bíblia. Porém, em adição a tudo
isso, a própria Bíblia estabelece motivos transcendentes para o estudo e a
aplicação na vida dos princípios que ela contém. Veja alguns desses motivos:
“A
tua palavra é a verdade.” (João 17:17) Essas palavras foram proferidas pelo Pai
do cristianismo – o Senhor Jesus Cristo – numa fervorosa oração que ele fez ao
seu Deus e Pai. Assim, encontramos na Bíblia a
verdade, não conceitos humanos equivocados. O valor da verdade pode ser
mensurado pelas seguintes palavras de Jesus: “A verdade vos libertará.” (João
8:32b) Assim, a verdade tem o maravilhoso poder de libertar os que a conhecem
de conceitos falsos, os quais podem mantê-los aprisionados a um modo de vida
altamente prejudicial. De modo que a Bíblia dignifica cada ser humano por lhe
prover a maneira correta de viver. Sobre isso, lemos em 2 Timóteo 3:16, 17:
“Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender,
para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de
Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra.”
Contudo, o
valor da Bíblia, qual inspirada Palavra de Deus, vai além desse benefício. O
Salmo 31:5 descreve o Autor da Bíblia como sendo “Jeová, o Deus da verdade”.
Assim, o progressivo conhecimento da verdade contida na Bíblia nos achega cada
vez mais ao Autor dela, Jeová Deus, e também ao Seu Filho, Jesus Cristo. (Leia
João 17:3.) Esses são, sem sombra de dúvida, os melhores Amigos que alguém
poderia ter. Adicionalmente, o texto de João 17:3 revela outro benefício da
relação achegada com o Deus verdadeiro mediante Cristo: a vida eterna. Todos esses motivos (e certamente
existem outros) pontuam a importância de se conhecer a Palavra de Deus.
Mas,
é mesmo possível entender a Bíblia? Por que existem tantas interpretações a
respeito de seu conteúdo? Alguns adotam a postura comodista e relativista de
que ‘cada um interpreta a Bíblia de um jeito’, acreditando que não existe
realmente uma verdade absoluta. No entanto, em oposição a tal conceito, Jesus
disse: “Conhecereis a verdade.” (João 8:32a) Por tais
palavras, Jesus afirmou que é possível obter o conhecimento correto das
Escrituras. De fato, uma profecia bíblica mostra que, devido à incrementada
pesquisa bíblica, no “tempo do fim” ‘o verdadeiro conhecimento se tornaria
abundante’. (Daniel 12:4) Naturalmente,
visto que os pesquisadores não são inspirados por Deus, invariavelmente
cometerão erros de interpretação, por mais bem intencionados que sejam. De modo
que o entendimento é progressivo, conseguido por se reunir as passagens que
dizem respeito ao tema pesquisado, por se construir sobre o que outros já
descobriram sobre o referido tema e por se dispor humildemente a corrigir
interpretações erradas. (Daniel 12:8-10) Veja o artigo “A ciência bíblica –como devemos encará-la?”, neste site.
Por
outro lado, Jesus indicou, numa conversa que teve com certos judeus de seus
dias, algo que pode servir de obstáculo ao correto entendimento da Palavra de
Deus. Jesus disse-lhes: “Vocês vivem estudando as Escrituras, pensando que vão
encontrar nelas a vida eterna. No entanto, as Escrituras dão testemunho de mim.
Mas vocês não querem vir a mim para terem a vida eterna.” (João 5:39, 40, Bíblia Pastoral) Por que razão
tais judeus não relacionavam com a pessoa de Jesus as passagens que diziam
respeito a ele como sendo o Messias?
Jesus
apontou o motivo, ao dizer: “Eu bem sei que não tendes em vós o amor de Deus.
Vim em nome de meu Pai, mas não me recebestes; se algum outro chegasse no seu
próprio nome, a este receberíeis. Como podeis crer, quando aceitais glória uns
dos outros e não buscais a glória que é do único Deus?” Como Jesus mostrou,
aqueles judeus não eram motivados pelo amor a Deus, mas buscavam a glória e o
louvor de homens. Não estavam comprometidos com a verdade divina, e sim com
manter as aparências perante os homens, para granjear o favor deles.
Essas
duas características perniciosas estavam entre os ingredientes que resultaram
na grande apostasia, ou desvio, do verdadeiro cristianismo que se impôs no
segundo século da Era Comum. Os líderes religiosos daquele tempo, a fim de
obter o favor dos pagãos, procuraram expressar crenças cristãs nos moldes da
filosofia grega, fazendo, com efeito, uma fusão entre os ensinos bíblicos e a
filosofia grega, em especial a neoplatônica. Mas, como água e óleo não se
misturam, e beber e dirigir não combinam, tentar explicar a Bíblia à base de
conceitos filosóficos faz com que ela entre em contradição consigo mesma. Qual
é, então, o modo correto de interpretar a Bíblia?
Hermenêutica
e orthotoméo
Hermenêutica
é o nome dado ao conjunto de princípios que regem a correta interpretação
das Escrituras. Ela está relacionada com o verbo ἑρμηνεύω (hermeneúo), que significa “explicar”, “interpretar”
e “traduzir”.
Lucas 24:27 declara sobre Jesus Cristo: “E,
principiando por Moisés e por todos os Profetas, interpretou-lhes [de hermeneúo][1] em todas as
Escrituras as coisas referentes a si mesmo.”
Outra
palavra grega ligada ao ensino correto das Escrituras é ὀρθοτομέω (orthotoméo), que significa literalmente “cortar reto”, ou “cortar
direito”. Ela é formada por dois elementos de composição gregos. Ortho significa “reto, direito”, tendo
sido incorporado em diversas palavras portuguesas, tais como “ortografia”,
“ortodoxo”, “ortopedia”, “ortodontia”, etc. Toméo deriva-se do verbo témno, que significa “cortar”. (Há quem
escreva a palavra de forma incorreta – como “ortothoméo” – trocando em ortho a letra theta pela letra tau, e trocando em toméo o tau pelo theta, devido a pouca familiaridade
com a língua grega. O leitor provavelmente encontrará algum site ou blog, e também temas de vídeos
teológicos, que grafaram esse termo de forma errada, o que evidentemente compromete
a credibilidade do autor dos mesmos quanto ao conhecimento do grego bíblico.)[2]
O termo grego orthotoméo ocorre declinado em 2 Timóteo
2:15, texto que reza: “Faze o máximo para te apresentar a Deus aprovado, obreiro
que não tem nada de que se envergonhar, manejando
corretamente [ὀρθοτομοῦντα; orthotomoûnta] a palavra da
verdade.” Assim como um perito alfaiate corta tecido seguindo
um modelo e um experiente agricultor faz sulcos retos numa roça, o responsável
e diligente instrutor da Palavra de Deus deve ‘manejá-la corretamente’ por se
esforçar em apegar-se ao seu real conteúdo e viver em harmonia com ela.
Notas:
[1] Como varia lectio, encontramos o
verbo relacionado διερμηνεύω (diermeneúo).
[2] A
palavra pode ser transliterada orthotoméo ou aportuguesada ortotoméo (sem o th de ortho).
A
menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do
Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
Os artigos deste site podem ser citados ou republicados, desde que seja citada a
fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Aliás, realmente existem alguns que grafaram mesmo errado a palavra grega citada, tenho até salvo as páginas de um destes blogs onde tais autores, alguns críticos das Testemunhas de Jeová vangloriam-se de serem "eruditos". Continue o bom trabalho.
Hhauhauauauaau.
Tenho minha dúvidas é costume se prender as doutrinas dentro das conversas religiosas dentro da cristandade. Ainda mais quando entra em pauta seus mestres tentando desmoralizar as denominadas seitas.
Se falhar a conversa estritamente doutrinal se peneira qualquer elemento que se julgue negativo, depreciativo, enfim, que possa minar a imagem da minoria religiosa proposta. Citar que conheceu vizinho que fazia isso, que um ex-membro reclamou daquilo, que líder tal era divorciado, que ouviu falar que fulano de tal fez alguma coisa de errada, insinuar que arrecadam dinheiro demais...que se exige fidelidade extrema e estudo demais além de dados minuciosos o que seria uma afronta à Graça!