Torre de Babel
Fonte da ilustração: http://wol.jw.org/pt/wol/d/r5/lp-t/2013646
O século
vinte testemunhou uma surpreendente explosão de igrejas
pentecostais.[1] Diversas religiões evangélicas promovem o
pentecostalismo. Após o segundo Concílio do Vaticano (1962-1965) o movimento
pentecostal aflorou no catolicismo romano, ficando conhecido como movimento
carismático. Entretanto, dúvidas sobre a validade ou genuinidade desse
comportamento religioso pairam na mente de muitas pessoas sinceras, e isso por
pelo menos três motivos.
Primeiro, as
religiões que alegam possuir os dons do espírito têm doutrinas muito
divergentes entre si. Uma vez que “Deus não é Deus de desordem [confusão, Al]”,
como poderia um dom da parte dele se manifestar em religiões tão conflitantes
entre si? (1 Coríntios 14:33) Segundo, o modo de vida levado pelos que professam
ter tais dons põe em dúvida a genuinidade de sua afirmação. Uma enquete de 1980
da revista Christianity Today e do Instituto Gallup de
Pesquisa, feita junto a cinco milhões de estadunidenses que alegavam falar em
línguas, trouxe à tona resultados surpreendentes. Note abaixo o que os números
indicaram[2]:
·
33 por cento
não acreditavam que o Diabo seja uma pessoa real
·
19 por cento
aprovavam o sexo antes do casamento
· 44 por cento
não consideravam a Bíblia como a autoridade mais importante.
·
58 por cento
não davam prioridade a ajudar a ganhar outros para Cristo
·
Todos se
envolviam com a política
À base dos
dados acima, é provável que muitos pentecostais se apressem a argumentar que
nem todos os que professam ter e manifestar os dons do espírito realmente têm
tais dons. Mesmo que essa afirmação fosse verdadeira, a pesquisa acima mostrou
uma porcentagem muito alta dos que afirmavam ter dons carismáticos, mas não
viviam segundo os preceitos cristãos. Assim, segundo tal argumentação, uma
grande parte dos que alegam ter dons são impostores.
Uma terceira
razão da reticência em relação a tais dons tem que ver com o comportamento
manifestado durante o período em que tais pentecostais alegam estar recebendo o
dom do espírito. Alguns rolam pelo chão, babam, contorcem-se, gritam
desvairadamente e ficam com a face terrivelmente desfigurada. Como tudo isso é
diferente do comportamento do cristão do primeiro século chamado Estêvão.
Quando estava “cheio de espírito santo”, era nítido aos seus opositores que “o
seu rosto era como o rosto dum anjo”. (Atos 6:15; 7:55) O espírito santo deu a
Estevão sobriedade, paz e tranquilidade incomuns, algo bem diferente do que se
observa nas exibições bizarras dos que professam receber os dons
espirituais.
Portanto,
vamos analisar a partir de agora o que a Bíblia tem a dizer sobre o assunto.
Neste artigo, responderemos a três perguntas essenciais: (1) Por que foram
dados os dons no passado? (2) Como se manifestavam? (3) Até quando durariam?
Por que foram conferidos os dons do espírito aos
cristãos do primeiro século?
Tais dons
foram concedidos por duas razoes básicas: para a propagação do recém-formado
cristianismo e para confirmar que esse era a partir de então o modo correto de
Deus ser adorado. (Atos 1:8; Hebreus 2:2-4) Os primitivos cristãos, em geral,
eram tidos pela sociedade da época como “indoutos e comuns”, sabendo falar,
mormente, o seu próprio idioma. No entanto, tinham diante de si uma obra
colossal de pregação “até a extremidade da terra”. (Atos 1:8, NM,
n.) De modo que o dom de línguas, manifestado primeiramente no Pentecostes de
33 EC, impulsionou tal obra. (Atos 2:1-11, 41) Ademais, Jeová havia usado a
nação de Israel sob o pacto da Lei mosaica como o arranjo aprovado de
aproximação a Ele por quase 1.600 anos. Portanto, seria de esperar que ele
confirmasse de forma visível a mudança para uma nova forma de adoração.[3]
Como eram os dons de Deus no passado?
Algumas
características marcantes de tais dons podem ser alistadas abaixo:
As curas
eram completas e instantâneas. – Atos 3:1-8;
5:15, 16.
Os milagres
eram concedidos não apenas aos que tinham fé. A cura realizada por Pedro, registrada em Atos
3:1-8, mostra que a pessoa que fora curada não esperava tal cura. Além disso,
as pessoas falecidas que foram ressuscitadas não poderiam ter exercido fé, uma
vez que estavam mortas. (Atos 9:36-42; 20:9-12) De fato, quando os apóstolos
não conseguiram realizar um milagre, Jesus indicou que faltou fé, não à pessoa
que precisava do milagre, mas aos apóstolos. – Mateus 17:14-16, 19,
20.
O dom de
línguas não era falatório que ninguém entendia. Por ocasião da primeira ocorrência do dom de
línguas, as pessoas das nações presentes ao Pentecostes relataram: “Como é que
ouvimos cada um de nós o seu próprio idioma em que nascemos? Nós os ouvimos
falar em nossas línguas sobre as coisas magníficas de Deus.” (Atos 2:8, 11)
Mesmo nas reuniões cristãs daquele tempo, o dom de línguas deveria ser
manifestado de modo a produzir edificação nos cristãos. Note como o espírito
santo orientou o apóstolo Paulo a dar as diretrizes que assegurariam tal
edificação. Paulo escreveu:
“A menos que
vós, por intermédio da língua, pronuncieis palavras facilmente entendidas, como
se saberá o que se fala? Estareis, de fato, falando ao ar.” – 1 Coríntios 14:9.
“Se
ofereceres louvor com um dom do espírito, como é que o homem ocupando o assento
da pessoa comum dirá ‘amém’ aos teus agradecimentos, visto que não sabe o que
estás dizendo?” – 1 Coríntios 14:16.
“Portanto,
se a congregação inteira se reunir num só lugar e todos falarem em línguas, mas
entrarem pessoas comuns ou incrédulos, não dirão que estais loucos?” – 1
Coríntios 14:23.
Os três
versículos acima mostravam a necessidade de as línguas faladas milagrosamente
serem entendidas. Para assegurar que isso acontecesse, Paulo deu a seguinte
diretriz:
“E, se
alguém falar numa língua, seja isso limitado a dois ou no máximo três, e por
turnos; e traduza alguém. Mas, se não houver tradutor, então fique calado na
congregação e fale consigo mesmo e com Deus.” – 1 Coríntios 14:27, 28.
A instrução
era óbvia: em cada reunião cristã, deveria haver no máximo três ocorrências de
dom de línguas; cada um dos três cristãos com o dom deveria falar por “turnos”,
isto é, cada um na sua vez, após o que deveria haver alguém com dom de
tradução, para o benefício de todos os presentes a tal reunião. Certa
testemunha de Jeová, que em seu ministério de evangelização entrevistou
representantes de muitas dezenas de igrejas pentecostais durante um período de
trinta anos, disse NUNCA ter encontrado uma religião pentecostal que seguisse a
diretriz apostólica de 1 Coríntios 14:27, 28. Em todas as religiões
pentecostais analisadas, sem exceção, várias pessoas – muitas vezes quase a
inteira congregação – falavam em línguas no mesmo culto, e ao mesmo tempo!
Isso levanta
sérias indagações: Se tais dons são realmente manifestações do espírito santo,
como é possível que o espírito santo tenha ordenado uma diretriz na Bíblia, no
primeiro século, e agora siga outra diretriz? Lembre-se de que tal diretriz foi
ordenada para manter a ordem e para produzir edificação. O que é testemunhado
nas igrejas pentecostais em nossa época evidencia justamente o contrário!
Portanto,
uma comparação sóbria entre os dons dos tempos apostólicos e os atuais torna
patente uma astronômica diferença entre os dois. Resta agora analisarmos a
terceira pergunta essencial proposta:
Até quando os dons miraculosos durariam?
Para
obtermos a resposta a essa pergunta, precisamos entender primeiro como tais
dons eram transmitidos. Encontramos a resposta em Atos, capítulo 8. Os
versículos 5-8 descrevem o trabalho de evangelização feito pelo discípulo
Filipe em Samaria. Visto que Filipe possuía os dons do espírito, ele realizou
muitos “sinais”, entre os quais estavam as curas físicas. Mas, como poderiam os
novos conversos também receber tais dons? O relato prossegue: “Quando os
apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria havia aceitado a palavra de Deus,
mandaram-lhes Pedro e João [que eram apóstolos]; e estes desceram e oraram para
que recebessem espírito santo. Porque não tinha ainda caído sobre nenhum deles,
mas eles tinham sido batizados apenas no nome do Senhor Jesus. Impuseram-lhes
então as suas mãos e eles começaram a receber espírito santo.” – Atos 8:14-17.
É, pois,
manifesto que os dons eram transmitidos através dos apóstolos. Inclusive, um
recém-convertido de nome Simão reconheceu isso. (Atos 8:18) Portanto, uma vez
que os apóstolos tivessem morrido, aqueles que haviam recebido os dons poderiam
usar tais dons, mas não haveria a transmissão deles a outros discípulos. E, uma
vez que tivessem morrido os que ainda detinham os dons, estes cessariam. É o
que a Bíblia nos informa em 1 Coríntios 13:8-13:
“O amor
nunca falha. Mas, quer haja dons de profetizar, serão eliminados; quer haja
línguas, cessarão; quer haja conhecimento, será eliminado. Pois temos
conhecimento parcial e profetizamos parcialmente; mas, quando chegar o que é
completo, será eliminado o que é parcial. Quando eu era pequenino, costumava
falar como pequenino, pensar como pequenino, raciocinar como pequenino; mas
agora que me tornei homem, eliminei as características de pequenino. Pois,
atualmente vemos em contorno indefinido por meio dum espelho de metal, mas
então será face a face. Atualmente eu sei em parte, mas então saberei
exatamente, assim como também sou conhecido exatamente. Agora, porém,
permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.”
Assim, os
dons espirituais – que incluíam o ‘dom de profetizar’, o dom de falar em
“línguas” e o conhecimento revelado – ‘cessariam’ de forma natural, e não por
uma interrupção súbita. Paulo explicou o motivo disso: os dons estavam
associados à infância do cristianismo; eram “características de pequenino”. Quando
a Bíblia estivesse completa, no fim do primeiro século, não haveria mais
necessidade de tais dons. A partir de então, “toda a Escritura” seria
suficiente para tornar “o homem de Deus ... plenamente competente,
completamente equipado para toda boa obra”. (2 Timóteo 3:16, 17) Mas, o que se
quer dizer com a expressão “quando chegar o que é completo, será eliminado o
que é parcial”? O que se quer dizer com “o que é completo”?
Essa é a
tradução do termo grego tò téleion, literalmente “a coisa
perfeita”. (Interlinear do Reino) Quando aplicado a pessoas, téleios se
refere a alguém plenamente maduro, principalmente em sentido espiritual. (1
Coríntios 14:20; Efésios 4:13; Hebreus 5:14) Usando a ilustração de Paulo, que
compara o recém-formado cristianismo como um “pequenino”, fica claro que “o que
é completo” é uma alusão ao tempo em que o cristianismo verdadeiro atingisse a
plena madureza espiritual, algo que ainda ocorrerá no futuro. Significa isso
que os dons continuariam em nossos dias, contradizendo o que já ficou patente
por intermédio de outros textos bíblicos?
Não, não
significa. A Bíblia é completamente harmoniosa. Note que a Bíblia não vincula o
fim dos dons com a chegada ‘do que é completo’. Falando sobre a mudança que
ocorreria quando chegasse “o que é completo”, Paulo declarou: “Atualmente vemos
em contorno indefinido por meio dum espelho de metal, mas então será face a
face. Atualmente eu sei em parte, mas então saberei exatamente,
assim como também sou conhecido exatamente.” (1 Coríntios 13:12) Note que Paulo
não disse: ‘Quando chegar o que é completo, acabarão os dons.’ Ele disse: “Então
saberei exatamente.” Por conseguinte, o “que é completo” tem
que ver como o pleno entendimento da Palavra de Deus. Assim, o que era
“parcial” eram o conhecimento e o entendimento das profecias e do propósito de
Deus. Isso é tornado claro pelas palavras de Paulo: “Atualmente eu sei em
parte.” O conhecimento e o entendimento parciais é que acabariam quando
chegasse "o que é completo".
Embora os
dons pertençam ao período apostólico e tenham acabado há muito tempo, junto com
tal período, o conhecimento e o entendimento parciais que temos hoje só serão
preenchidos quando todas as profecias bíblicas se cumprirem, fornecendo-nos
então o pleno entendimento de seu significado, bem como quando Jeová prover ao
Seu povo o pleno entendimento de todas as verdades preciosas contidas em Sua
Palavra.[4]
Assim,
obtivemos a resposta a três perguntas essenciais, ligadas a esse tema: (1) Por
que foram conferidos os dons do espírito? (2) Como eram transmitidos? e (3) Até
quando durariam? As respostas bíblicas a tais questões suscitam outra
importante pergunta:
Que dizer dos alegados dons atuais?
Uma vez que
os verdadeiros dons do espírito cessaram há muito tempo, o que explica essa
clara distorção de tais dons nas igrejas pentecostais? Charlatanismo? Embora
essa premissa não possa ser desconsiderada, os fatos mostram que há algo mais
envolvido.
Há algumas
décadas, alguns pesquisadores nos Estados Unidos decidiram estudar o estranho
fenômeno das manifestações dos alegados dons espirituais nas igrejas
pentecostais da cristandade. Eles se ativeram particularmente na glossolalia,
que é o nome dado ao comportamento de falar em línguas. Para ajudá-los, eles
convidaram um poliglota chinês, solicitando que ele visitasse diversas igrejas
pentecostais para analisar o fenômeno. E isso foi feito. Após isso, foi pedido
ao poliglota que ele relatasse suas conclusões. O chinês disse que grande parte
do que ele ouviu em tais igrejas era um falatório ininteligível. Mas
acrescentou que alguma coisa falada consistia realmente de idiomas conhecidos
por ele. Do que ele pôde entender, afirmou o poliglota, algumas frases estavam
em dialetos africanos e outras, em dialetos chineses. Quando foi solicitado que
ele traduzisse o que havia entendido, ele se recusou a fazê-lo. Por quê?
Porque, conforme ele declarou, tratava-se de palavras de baixo calão!
Quando pessoas
comuns, que sabem quando muito o seu próprio idioma, falam palavras de baixo
calão numa língua estrangeira que nunca estudaram nem sequer ouviram, a que
conclusão o leitor sincero chegaria? O atual pentecostalismo seria apenas
charlatanismo, ou está envolvido algo mais profundo e aterrador – a influência
de forças espirituais iníquas tentando enlaçar pessoas por se manifestarem sob
o ardil duma roupagem falsamente cristã?[5]
Notas de rodapé:
[1]
“Pentecostal”, na acepção usada neste artigo, refere-se ao movimento religioso
que alega que os dons do espírito, que passaram a ocorrer com o derramamento do
espírito santo na festividade judaica de Pentecostes, ainda existem e se
manifestam atualmente nos cristãos.
[2] Veja
a revista A Sentinela de 15 de fevereiro de 1982, p. 7, publicação periódica das Testemunhas de Jeová.
[3] Note
que Jesus nunca falou em línguas, uma vez que ele havia sido enviado “às
ovelhas perdidas da casa de Israel” e a congregação cristã ainda não havia sido
formada durante seu ministério terrestre. – Mateus 15:24; 21:43.
[4] Veja
a revista A Sentinela de 15 de maio de 1975, pp. 319-320.
[5] Este
artigo é baseado num esboço de discursos, da série antiga, das Reuniões
Públicas das Testemunhas de Jeová, intitulado “Os Dons Miraculosos Que Não Mais
Existem”.
A menos que haja uma
indicação, todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo das
Escrituras Sagradas, publicada pelas Testemunhas de
Jeová.
Os
artigos deste site podem ser citados
ou republicados, desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
curti demais esse artigo irmão.. bem explicado e detalhado..
[extraído do orkut.]