Fonte: jw.org
Um leitor teceu o seguinte comentário:
Graça e paz, apologista da verdade.
Mais uma vez gostaria de parabenizá-lo pelo
excelente site e conteúdo bíblico disponível. Lhe escrevi anteriormente sobre
alguns artigos expostos em seu site sobre a divindade de Jesus. Observei que,
no seu artigo sobre Romanos 9:5, você afirmou que as Testemunhas de Jeová
acreditam na divindade de Jesus:
“Em razão disso, as
Testemunhas de Jeová reconhecem e aceitam abertamente a divindade de nosso
Senhor Jesus Cristo.[2] No entanto, a divindade de Cristo não pressupõe a
igualdade dele com seu Pai, Jeová.”
Nos artigos sobre João 1:18,
você defende a ideia de que Jesus deve ser chamado “deus unigênito” baseado em
textos mais antigos. Diante disso, fica a pergunta clássica: as Testemunhas de Jeová
creem em mais de um deus?
Nos e-mails
anteriores citei que, nos episódios de Moisés, o termo “deus” foi usado no
sentido de que, para Faraó, ele teria os poderes de Jeová outorgados por Este.
Ou seja, para o soberano do Egito Moisés seria considerado um deus. Os juízes
iníquos são chamados de deuses porque agiam como tais para com o povo, assim
como o diabo é chamado de deus deste século (2 Coríntios 4:4) por sua
dominação sobre os iníquos.
Porém, no caso de Jesus,
considerá-lo como um deus poderoso não seria uma enorme heresia? Esqueçamos por
um momento a doutrina da Trindade. Sabemos que o Pai é superior ao Filho
e, mesmo considerando o Filho, Jesus Cristo, como o primeiro ser criado, não
seria mais lógico acreditar que Jesus é divino da mesma substância do Pai?
Poderíamos citar ainda a grande celeuma que é dizer que Jesus Cristo é o Senhor
quando Deuteronômio 6:4 diz que apenas Jeová é o Senhor. Ou ainda os textos do
Apocalipse, que chamam Jesus e Jeová de Alfa e Ômega.
Citando um último trecho de
Hebreus 1, extraído do site jw.org:
“Mas a respeito do Filho ele diz: ‘Deus é o
seu trono para todo o sempre, e o cetro do seu Reino é o cetro da retidão. O senhor amou a justiça e odiou o que é contra
a lei. É por isso que Deus, o seu Deus, o ungiu com óleo de alegria mais
do que aos seus companheiros.’ E: ‘Ó Senhor, no princípio lançaste os
alicerces da terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles deixarão de
existir, mas tu permanecerás; eles se gastarão como uma roupa, e tu os
enrolarás assim como a um manto, como a uma roupa, e eles serão trocados. Mas
tu és o mesmo, e os teus anos nunca chegarão ao fim.’”
Eis a confusão: esse texto é
extraído do Salmo Salmos 102:24-27. Vemos claramente que esse
trecho se refere claramente a Deus, e o autor de Hebreus o aplica a Jesus. Mais
uma vez não seria mais óbvio se crer que Jesus e o Pai são da mesma essência,
ou seja, consubstanciais, mesmo não se admitindo sua igualdade, ao
invés de se afirmar que Jesus é divino, um deus à parte?
OBS: o referido site alega
que os anjos são divinos o que não encontra respaldo bíblico. O fato de serem
chamados de Elohim, já que essa palavra também se aplica a seres
poderosos, não significa que sejam de natureza divina.
Resposta:
As Testemunhas de Jeová, assim como outros grupos religiosos unitários,
são monoteístas, como o eram os judeus pré-cristãos e os cristãos do primeiro
século. Assim, reconhecem que “há um só Deus, o Pai” que é Todo-Poderoso,
Supremo e merece a adoração exclusiva. – 1 Coríntios 8:6.
Por outro lado, reconhecer a divindade de Jesus não é politeísmo. O artigo
“Ser Jesus chamado de Deus prova que ele é coigual ao Pai?”, no
subtítulo “Em que sentido Jesus é ‘Deus’?”, explicou:
Os que foram aludidos como “Deus” sem conotação
adorativa e de modo aprovativo (Moisés e os anjos) o foram por serem
representantes de Deus, tendo recebido poder e autoridade da parte dele. No
caso dos anjos, foram chamados de elohim também por terem
natureza divina. Assim sendo, tendo em vista que o Filho é o maior
representante de Deus (sendo o Lógos – o “Verbo”) e tem
natureza divina, ele pode corretamente e com muito mais propriedade ser chamado
de “Deus” sem ser, contudo, o Deus Todo-Poderoso.
Portanto, tendo em vista o uso que a Bíblia
faz do termo “Deus”, não é politeísmo aceitar a divindade de Cristo e sua
limitação de poder, autoridade e tempo de existência em relação a seu Deus e
Pai, Jeová.
O Filho é da mesma substância que o Pai?
A questão sobre Jesus ser “da mesma substância” (do grego homoousia) que seu Pai gerou uma discussão acirrada no quarto
século, que encontrou o seu clímax no Concílio de Niceia, em 325 EC. Dois teólogos,
Atanásio e Alexandre, afirmavam que o Filho era da mesma substância, ou essência
(homoousios) que o Pai, sendo coiguais, sendo um só Deus. Por outro lado, o teólogo Ário
negava a teoria da consubstancialidade entre o Pai e o Filho, sustentando que o
Filho foi criado, teve princípio, e que somente o Pai era incriado.
De onde surgiu a teoria da “mesma substância”? A Encyclopœdia Britannica
declara:
A teologia cristã tomou a metafísica [filosofia] neoplatônica da substância, bem como a
sua doutrina da hipóstases [essência ou natureza] como ponto de partida para
interpretar o relacionamento do “Pai” com o “Filho”.
[…]
Desde o início, a controvérsia entre ambas as partes
[em Niceia] se deu sobre a base comum do
conceito neoplatônico de substância, estranho ao próprio Novo Testamento.
Não é de admirar que o prosseguimento da disputa sobre a base da metafísica da
substância conduzisse igualmente a conceitos que não encontram respaldo no Novo
Testamento. (Negrito acrescentado.)
Em adição, note como a Nova Enciclopédia Católica (em inglês)
explica a teoria da mesma substância, sob o verbete “Consubstancialidade”:
A
consubstancialidade definida pelo [Concílio] de Nicéia I [325 E. C.], portanto, …
afirma
essencialmente que o Filho é igual ao Pai, é tão divino como o Pai, sendo
de Sua substância e da mesma substância que Ele; segue-se daí, necessariamente;
que o Filho não pode pertencer ao que
foi criado . . . Por causa da absoluta unicidade, união e
simplicidade de Deus, a identidade da
substância não é apenas específica [como no caso dos humanos, que têm em comum
a natureza humana], mas absoluta ou numérica. (Negrito acrescentado.)
Curiosamente, a trindade do
budismo chinês é descrita de um modo quase idêntico ao conceito trinitário. A obra
Origin and Evolution of Religion (“Origem
e Evolução da Religião”, p. 348) declara:
Os Três estão todos
incluídos numa única essência substancial. Os três são iguais a um; não um, e
ainda assim não diferentes; sem partes nem composição. Quando consideradas como
uma só, fala-se das três pessoas como sendo o Perfeito (Tatagata). Não há
nenhuma diferença real [entre as três pessoas da trindade]; são manifestações,
aspectos diferentes da mesma substância imutável.
Assim, o conceito de o Pai e o
Filho terem a mesma substância se ancora na filosofia grega de Platão, e não
nas Escrituras.
O Padre Marcelo Chelles, em sua
oitava aula de Cristologia, comenta o seguinte sobre Ário:
[…] a partir de 318, começou
a ensinar a subordinação do Verbo ao Pai,
retomando assim a posição de autores anteriores; dizia: “Deus nem sempre foi
Pai; houve um tempo em que era somente Deus.., O Verbo de Deus foi feito a
partir do nada; houve um tempo em que ele não existia” (Fragmenta ex Thalia em
Enchiridion Patristicum n°s 648s). O
Verbo é a primeira e mais digna criatura do Pai. (Negrito acrescentado.)[1]
Embora as Testemunhas de Jeová não sejam arianas, reconhecem que Ário
estava biblicamente correto em defender a subordinação do Verbo (Jesus Cristo)
ao Pai. – João 14:28; 1 Coríntios 15:27, 28.
Sobre a teoria da
consubstancialidade, note o que Isaac Newton declarou:
Homoousion [a doutrina pela qual o Filho é da mesma substância que o Pai] é
ininteligível. Não foi entendido no Concílio de Nicéia, nem desde então. O que
não pode ser entendido, não é objeto de crença.[2]
Portanto, o conceito da “mesma substância” entre o
Pai e o Filho não tem respaldo bíblico.
As demais questões levantadas pelo citado leitor
serão consideradas em um futuro artigo.
Notas:
[1] O SÉCULO QUARTO NICÉIA I (325) e CONSTANTINOPLA I (381). Disponível em:< http://www.pnsassuncao.org.br/images/curso-de-teologia/iii-semestre/viii-cristologia-pe-marcelo.pdf>.
[2] Sir Isaac Newton Theological Manuscripts, p. 17. Apud revista “A Sentinela” de 15 de outubro de 1977, p. 628: Isaac Newton em busca de Deus.
Referências:
CHELLES, Marcelo. O SÉCULO QUARTO NICÉIA I (325) e
CONSTANTINOPLA I (381). Disponível em:< http://www.pnsassuncao.org.br/images/curso-de-teologia/iii-semestre/viii-cristologia-pe-marcelo.pdf>.
Sir Isaac Newton Theological Manuscripts, p. 17. Apud revista “A
Sentinela” de 15 de outubro de 1977, p. 628: Isaac Newton em busca de Deus.
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Os artigos deste site podem ser citados ou republicados,
desde que seja citada a fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Por exemplo, a que mais me chamou à atençao pela falta de lógica foi SUPOR que o fato de reconhecer a JESUS como deus faria das TESTEMUNHAS DE JEOVÁ, obrigatoriamente, defensores de algum ensino antibíblico. Essa acusação é totalmente infundada, baseada em pré-conceitos!
Um exemplo, RECONHECIDO pelo próprio questionador, serve para demonstrar:
O CASO DE MOISÉS SER COLOCADO NA FUNÇÃO DE UM DEUS PERANTE FARAÓ e PERANTE O POVO DE ISRAEL:
HAVIA JEOVÁ DEUS E MOISÉS COMO "SEGUNDO DEUS", UM REPRESENTANTE MENOR DO DEUS MAIOR JEOVÁ.
Fato!
Pois bem...Por acaso O POVO DE ISRAEL ERA POLITEÍSTA PELO FATO DE TEREM QUE OBEDECER A DOIS PERSONAGENS, dois "deuses", A JEOVÁ E A MOISÉS ?
O MONOTEÍSMO DE ISRAEL EXIGIRIA QUE OS JUDEUS NÃO OUVISSEM O QUE MOISÉS ORDENAVA ???
Por essa lógica, alguém também poderia dizer que os Israelitas deveriam exigir falar DIRETAMENTE COM DEUS, UNICAMENTE COM DEUS, NINGUÉM ALÉM DE DEUS, sem a necessidade de MOISÉS, um segundo personagem servindo no cargo de autoridade entre Jeová e o Povo !
O cargo de Moisés era ilegítimo ??!! Ele estava ocupando o lugar de Deus, que só cabe a Jeová no monoteísmo!
Tem lógica acusar Moisés disso ? Teria base acusar os israelitas de violarem o "monoteísmo" por terem DUAS AUTORIDADES na Liderança do povo, MOISÉS E JEOVÁ ?!
Claro que não!
Da mesma forma, não há base BÍBLICA para dizer que as Testemunhas de Jeová estariam erradas por reconhecerem a AUTORIDADE DE JEOVÁ como sendo O DEUS E A AUTORIDADE DE JESUS como sendo um deus que está debaixo do comando do Deus Jeová, o Supremo!
Outro erro gritante foi a base que o leitor usou para dizer que Jeová é o único "senhor", usando para tal argumento o texto de Deuteronômio 6:4, tirado de versões bíblicas que APAGAM O NOME DE JEOVÁ.
Meu caro "Leitor"! Por favor!
O texto ORIGINAL não diz isso! Não diz que Jeová é o único Senhor!
A palavra "Senhor" NÃO EXISTE NO TEXTO HEBRAICO ORIGINAL!
O texto VERDADEIRO está de acordo com diz a Bíblia das testemunhas de Jeová:
"Escute, Israel: JEOVÁ é o nosso Deus, Jeová é o ÚNICO!"
Portanto, NÃO tem base BÍBLICA dizer que o "shemá Israel" entraria em conflito com a doutrina que reconhece a Jeová como Deus ao mesmo tempo que permite reconhecer o "senhorio" de Jesus.
Ora, acaso anjos não são filhos de Deus?
Jó 1:6; 2:1.
Anjos são divinos, vide salmos 8:5. Se o próprio Deus diz isso, quem ousa discordar? Ora, quem além de Deus tem autoridade pra definir quem é deus ou não? Is 44:6 "...além de mim não há Deus"