Fonte: jw.org
Este artigo foi produzido por mim, o apologista
da verdade, tendo também como material de pesquisa as observações do Saga, um
esforçado pesquisador cristão.
Há alguns anos, recebi do Saga esta pergunta e as subsequentes
considerações dele:
Como Judas 4 se relacionaria a “lei de
Sharp”? Lembrando novamente que tal passagem tem variante textual no Texto
Recebido em relação ao Texto Crítico.
Existem duas vertentes no entendimento desse verso:
[1] uma que diz que fala do Soberano (Desposta – Deus) e [kaí] do
Senhor (Kýrios – Jesus);
[2] outra que entendeu que fala do “Soberano e Senhor, Jesus
Cristo”.
As traduções que se pautam pelo Texto Crítico utilizam a segunda
opção, enquanto que as que são baseadas no Texto Recebido escolhem a primeira.
(O entendimento trinitário dessa passagem não é usado mais na maioria das
versões e mesmo as do naipe da King James o desmente.)
Eu sinto que tem algo a ver com as ‘regrinhas’ nas quais os
tradutores se pautam para decidir se palavras separadas por KAI se referem à
mesma coisa ou a coisas distintas. Temos dois nomes [os títulos Despotes e Kýrios] que muitos inclusive
tomam como sinônimos (ambos significam “Senhor”, “Amo” – um dono de escravos)
separados por KAÍ e um substantivo em seguida (Jesus).
No caso de como o texto está no Texto Recebido, ali se acresce um
novo personagem, com o substantivo extra (DEUS); um adjetivo se liga a uma
pessoa (“Désposta” se liga a Deus, como diz a KJ: “the LORD GOD” [o SENHOR DEUS]) e o outro adjetivo se liga a
outra pessoa (“Kýrios” se liga a Jesus, como diz a KJ: “the LORD JESUS” [O SENHOR JESUS]).
O Apologista da verdade:
Como demonstrou o artigo “Jesus Cristo é o ‘grande Deus’ mencionado em Tito 2:13?”, com base textual bíblica, as alegadas regras de Sharp, embora possam coincidir em alguns textos, não subsistem a um exame mais profundo, pois outros textos não se conformam a elas. Pois, quando o CONTEXTO fala de dois seres DIFERENTES, mesmo que dois nomes (substantivos, adjetivos ou particípios) no mesmo caso sejam ligados por KAÍ e o primeiro seja precedido de artigo, isso não torna o segundo (substantivo, adjetivo ou particípio) o mesmo ser que o primeiro.
A própria história do Texto Recebido explica sua fragilidade, pois
foi produzido às pressas com objetivos comerciais. Por essa razão, muitos erros
foram inseridos nele. Um exemplo se encontra em Judas 4, que acrescenta a
palavra “theós” (“deus”) antes de “despótes” (“dono”, “amo”). No
entanto, o Manuscrito Vaticano 1209, do 4.º século EC, no qual se baseia
a The Emphatic Diaglott, não usa a palavra “théos”. Quanto a
Romanos 9:5 e Tito 2:13, a tradução errada se deve ao motivo tendencioso de
tentar provar a Trindade, bem como à falta de conhecimento (e/ou de
reconhecimento) do contexto e da gramática grega. (Veja os artigos “‘Deus
bendito eternamente’ – Quem? (Romanos 9:5)” e “Jesus Cristo
é o ‘grande Deus’ mencionado em Tito 2:13?” neste site.
Apesar de toda a confusão que permeia a regra de Sharp, alguns a
definindo de um modo e outros, de outro, em geral há concordância de que ela
afirma que:
DOIS nomes (substantivos, adjetivos ou particípios) do mesmo caso
ligados por kaí, se o primeiro nome é
precedido por artigo, o segundo nome não precisa vir precedido por artigo para
se referir ao mesmo ser.
No entanto, Judas 4, de acordo com o Texto Crítico, apresenta uma
construção levemente diferente. Veja a tradução literal do texto grego da parte
que estamos focando:
τὸν μόνον δεσπότην καὶ κύριον ἡμῶν Ἰησοῦν Χριστὸν
tòn mónon
despóten kaì kýrion hemõn Iesoûn Khristòn
O único Dono e Senhor de nós Jesus Cristo
Observe que,
começando com o artigo, não há, estritamente falando, DOIS nomes ligados
por kaí. O artigo precede um adjetivo (“único”, MÓNOS) e um
substantivo (“Dono”, DESPÓTES), que são ligados por kaí (“e”)
a outro substantivo (“Senhor”, KÝRIOS).
Assim, com relação a Judas 4,
num sentido estrito, essa passagem não se enquadraria na supracitada regra, uma
vez que os elementos separados por kaí não se encontram na
mesma construção gramatical. No entanto, arguindo-se que o artigo ho se
relaciona ao substantivo “Dono” (“despótes”) – o que é fatual
–, teríamos uma expressão (“único Dono”) ligada a um substantivo (“Senhor”),
sendo a expressão precedida pelo artigo definido “o” (“ho”). Alguém
poderia argumentar que se trata de uma ‘versão’ ou ‘variação’ da regra de
Sharp; contudo, mesmo assim, não apoiaria o objetivo proposto por Sharp, que
era o de tentar provar que Jesus é o mesmo Deus que seu Pai (uma das premissas
da Trindade).
Jesus Cristo de fato
é “Dono”, visto que ‘comprou’ a humanidade com a deposição de sua vida qual
resgate. (Mateus 20:28) E também é “Senhor”, sendo único como tal no sentido de
ser aquele “POR INTERMÉDIO DE QUEM são todas as coisas”. (1 Coríntios 8:6; Atos
2:36) Seu Pai, Jeová, também é Senhor, mas não como intermediário, e sim como
FONTE de todas as coisas – Aquele “DE
QUEM PROCEDEM todas as coisas”. – 1 Coríntios 8:6.
Lemos em Gênesis 15:2 (Almeida Revista e
Corrigida): “Então, disse Abrão:
Senhor JEOVÁ, que me hás de dar? Pois ando sem filhos, e o mordomo da minha
casa é o damasceno Eliézer.”
Portanto, Judas 4 não apoia a doutrina da Trindade. O artigo
seguinte fará comentários sobre a inserção da palavra “Deus” nessa passagem
pelo Texto Recebido.
A menos que haja uma indicação,
todas as citações bíblicas são da Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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Comentários
Aplicando assim a expressão "único soberano" a Jeová. baseado na noção de que as outras aparições da palavra se relacionam ao Pai.