Quando
o Filho de Deus, Jesus Cristo, veio à Terra, será que ele introduziu um
conceito novo sobre a identidade de Deus? Será que ele se apresentou como uma
segunda parte de Deus, algo totalmente alheio ao conceito apresentado nas
Escrituras Hebraicas, coleção então existente já por quinze séculos? Será que o
espírito santo mudou de identidade, deixando de ser algo e passando a ser
alguém?
O
objetivo deste artigo não é refutar cada versículo apresentado por
trinitaristas como alegada prova da doutrina da Trindade. Ao invés disso, esta
matéria apresenta de forma direta e positiva o conceito das Escrituras Gregas,
o chamado “Novo Testamento”, sobre a identidade de Deus, bem como sobre a
identificação de Jesus e do espírito santo.
O
artigo anterior focou as duas características básicas da crença trinitarista –
a existência de três pessoas em um só Deus e a coigualdade entre elas de glória,
poder, autoridade e eternidade. Portanto, o primeiro aspecto desse dogma
depende da personalidade do espírito santo. Diante disso, perguntamos:
O que o "Novo Testamento"
revela sobre o espírito santo?
Ao
explicar à virgem judia Maria como se daria o nascimento milagroso de Jesus, o
anjo Gabriel disse: “Espírito santo virá sobre ti e poder do Altíssimo te
encobrirá.” (Lucas 1:35) Sendo israelita, Maria possuía o conceito judaico
sobre o espírito santo exposto nas Escrituras Hebraicas – como sendo algo, uma
força impessoal. Que o mesmo conceito predominou pode ser visto pelo paralelo
entre “espírito santo” e “poder do Altíssimo”. [1] Ademais, antes disso, o
mesmo anjo havia dito a Zacarias que João Batista seria “cheio de espírito santo
desde a madre de sua mãe”. (Lucas 1:15) Tal descrição mantém o mesmo conceito
afirmado no “Velho Testamento” sobre a impessoalidade do espírito santo. O
próprio Jesus Cristo atestou o caráter impessoal do espírito santo, ao comparar
esse espírito com o “dedo de Deus”. – Mateus 12:28; Lucas 11:20.
Tais
textos, por si só, mostram a alguém sem preconceitos que o conceito da primeira
parte da Bíblia sobre o espírito santo foi mantido. Adicionalmente, isso
explica por que, em muitos textos, o espírito santo não é mencionado junto com
o Pai e o Filho. (Veja João 8:17, 18; 10:30; 17:3, 20-22; Apocalipse 7:10; 4:9;
5:3, 5, 7; 22:1, 3; Efésios 5:5; 1 João 1:3) Especialmente digno de nota é o
texto de João 8:17, 18, onde Jesus evoca a si mesmo e a seu Pai como sendo
testemunhas de que ele é o Enviado de Deus. Jesus fez isso com base na Lei
mosaica, que declara: “O assunto deve ficar de pé pela boca de duas testemunhas
ou pela boca de três testemunhas.” (Deuteronômio 19:15) Por que Jesus não
apresentou o Pai e o espírito santo como testemunhas à parte dele, os quais, junto
com ele, constituiriam três testemunhas? Isso por certo daria
mais peso ainda à sua afirmação. O contexto geral da Bíblia responde: Porque o
espírito santo não é uma pessoa.
Prova
adicional disso é que tal espírito é mencionado como dando testemunho, mas não
junto com pessoas e sim com coisas impessoais, como a “água” e o “sangue”. (1
João 5:5-8) De fato, diversos textos alistam o espírito santo com coisas
impessoais. (Mateus 3:11; Atos 6:5; 11:24; 13:52; 2 Coríntios 6:4-6; Efésios
5:18) Outrossim, as mesmas expressões usadas para o espírito santo nas
Escrituras Hebraicas, bem como expressões similares, de caráter igualmente
impessoal, são também usadas nas Escrituras Gregas Cristãs. Segundo esta última
coleção, o espírito também pode ser derramado (Atos 2:17; 10:45), distribuído
(Hebreus 2:4) e até soprado.[2] – João 20:22.
Todo
esse coerente e uniforme conjunto de evidências atesta cristalinamente a
impessoalidade do espírito santo, reiterando o mesmo conceito das Escrituras
Hebraicas, e provando além de qualquer contestação que a alegação trinitária de
três pessoas em um só Deus não tem respaldo nas Escrituras Sagradas.
Mas,
que dizer do Filho? Será que ele é apresentado no “Novo Testamento” como constituindo,
junto com o Pai, um só Deus, formando assim uma dualidade de iguais?
O que o "Novo Testamento"
revela sobre o Filho?
As
Escrituras Hebraicas mencionam o Filho de forma discreta. Como sabedoria
personificada, ele é descrito como alguém ‘produzido’ por Jeová “como princípio
do seu caminho”, como “mestre-de-obras”, que participou junto como o Pai na
criação, e como “aquele de quem ele [Jeová] gostava especialmente”. (Provérbios
8:22, 30) Tal descrição evidentemente indica ausência de coigualdade em glória,
poder, autoridade e eternidade. Será que o “Novo Testamento” mudaria esse
quadro?
Positivamente
não! As Escrituras Gregas Cristãs, de forma coerente e harmoniosa com as
Escrituras Hebraicas, descrevem igualmente o Filho como alguém ‘produzido’ por
Deus, em expressões tais como “o primogênito de toda a criação” e “o princípio
da criação de Deus”. (Colossenses 1:15; Apocalipse 3:14) Confirmando o papel do
Filho como “mestre-de-obras”, tais Escrituras fazem alusão à participação do
Filho na criação, não como Autor dela, mas como intermediário. (João 1:3, 10;
Hebreus 1:2; Colossenses 1:16, 17; 1 Coríntios 8:6) É, pois, evidente que tais
fatos não deixam margem para qualquer suposta coigualdade entre o Filho e o
Pai.
Com
efeito, o inteiro “Novo Testamento” descreve o Filho como subordinado e
inferior ao Pai. Ele é menor que o Pai, sendo aludido como “servo” de Deus
(João 14:28; Atos 4:30; 1 Coríntios 11:3); ele não exerce sua própria vontade,
mas a do Pai (João 5:30; 6:38); ele não fala de si mesmo, mas somente o que o Pai
o mandou falar. (João 8:26; 12:49) Tudo, inclusive a própria vida, ele recebeu
do Pai. (João 3:35; 5:26, 27; 6:57; Mateus 28:18) O conhecimento do Filho é
limitado em relação ao do Pai. (Mat. 24:36; Apocalipse 1:1; 1 Coríntios 2:16) O
Filho é herdeiro do Pai. (Romanos 8:17) O Pai é Deus do Filho.[3] – 1 Coríntios
15:24; Efésios 1:17; Apocalipse 3:2, 12.
Portanto,
em harmonia com o quadro de subordinação e inferioridade do Filho em relação ao
Pai, apresentado nas Escrituras Cristãs, as alusões ao Filho como “deus” o
tornam “um deus” menor e sujeito ao Pai. Assim, a tradução indefinida de João
1:1c não é só gramaticalmente possível, como também é contextualmente
correta.[4]
Como
é maravilhoso saber a verdade a respeito de Deus! Longe de ser uma misteriosa
Trindade ou de ser uma dualidade de iguais, a Bíblia inteira harmoniosamente o
revela como sendo uma única Pessoa, com nome próprio, gênero e personalidade.
(Salmo 83:18; Êxodo 34:6) Ele possui um Filho muito especial, sua primeira
criação e seu principal representante, que foi enviado à Terra para vindicar
Sua Soberania e resgatar a humanidade obediente do pecado e da morte adâmicos.
(João 3:16, 36; 14:31; 1 João 3:8) E ele usa seu espírito santo, a energia que
dele emana, para realizar Sua vontade e beneficiar Seus servos. (Salmo 33:6;
143:10) Por aceitarmos tais cristalinas verdades da Palavra de Deus e vivermos
em harmonia com elas, podemos entrar numa relação achegada com Jeová, pois
Jesus declarou: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai com espírito e
verdade, pois, deveras, o Pai está procurando a tais para o adorarem.” – João
4:23.
[1] Estritamente falando,
espírito santo não é poder, mas força. Poder é energia concentrada, ao passo
que força é energia liberada, em operação. Podemos ilustrar a diferença com a
bateria carregada de um carro. Ela tem poder
para fazer o veiculo funcionar. Mas, quando se dá a partida, ela libera força ou corrente elétrica. O ponto em
questão é que força e poder são termos semelhantes e expressam características
e não personalidade.
[2] Os casos de personificação
do espírito santo serão considerados em outro artigo. No entanto, em
antecipação, podemos sublinhar que, uma vez que a Bíblia não se contradiz, a
personificação do espírito não poderia provar sua alegada personalidade.
Ademais, textos tais como Mateus 28:19, 1 Coríntios 12:4-6 e 2 Coríntios 13:13
também precisam ser entendidos à luz do conceito bíblico, de que tal espírito
não é uma pessoa.
[3] Assim, textos bíblicos
tais como João 10:30, João 20:28, Filipenses 2:6, Tito 2:13, e outros, devem
ser entendidos em harmonia com a clara verdade apresentada no “Novo
Testamento”, de subordinação e inferioridade do Filho em relação ao Pai.
[4] A tradução qualitativa de
João 1:1c, fazendo o texto rezar “a Palavra era divina”, tem de ser entendida
dentro do quadro de subordinação e inferioridade do Filho exposto no “Novo
Testamento”. Portanto, ser a Palavra “divina” não implicaria coigualdade, mas apenas
ressaltaria sua natureza, do mesmo modo que ser alguém “humano” não o torna
coigual a outro humano; apenas destaca a sua natureza. No entanto, a tradução
indefinida preserva a palavra usada no texto – theós (deus); a palavra “divino” é theíos. Ademais, a
tradução “um deus” destaca tanto a natureza como a individualidade da Palavra,
sendo, portanto, semanticamente mais abrangente. Assim, a tradução “um deus” é
gramaticalmente correta, é textualmente preservativa, é contextualmente certa e
biblicamente exata.
A menos que haja uma indicação, todas as citações bíblicas são da
Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, publicada
pelas Testemunhas de Jeová.
Contato: oapologistadaverdade@gmail.com
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fonte: o site www.oapologistadaverdade.org
Comentários
Defender uma crença com base na mitologia não é um bom começo. Um apologista da fé cristã se baseia na Bíblia, e não em mitologia. Além disso, usar analogias de composições de três para explicar a Deus é completamente destituído de hermenêutica. O que explica a natureza de Deus é a Bíblia Sagrada, e o artigo acima, com base na Bíblia, mostra que ele não é uma trindade.